Bandit (2022)

de Janai Reis

Young guy with a gun.

Um filme com a premissa de que um “homem não nasce mau, aprende a sê-lo”; uma narrativa inspirada em factos verídicos – como é mostrado logo desde início da forma mais explícita e desenvergonhada –; e uma realização ainda a ser limada, ainda por amadurecer.

Baseado na história real daquele que fora conhecido como “The Flying Bandit“, Bandit conta a história de um criminoso profissional (Josh Duhamel) que assume uma nova identidade no Canadá, e acaba por conseguir atingir um recorde de 59 assaltos a bancos e joalherias, com a ajuda do gangster Tommy Kay (Mel Gibson). Paralelamente, está a ser investigado pela polícia, que pretende rapidamente capturar o ladrão de bancos mais procurado na história do Canadá.

Logo na introdução do filme somos deparados por um estilo familiar, algo que já vimos antes: um ladrão carismático que narra a sua própria história, que quebra a quarta parede para estabelecer a relação com o espectador diretamente através do olhar. Talvez, dentro do tema da narrativa, se assemelhe a um The Old Man & the Gun (2019) de David Lowery, tendo em conta a forma igualmente simpática, de assaltar bancos e de falar com as vítimas do assalto.

Contudo Bandit começa por mostrar um tom mais excêntrico e “arriscado”, tanto pela narração já anteriormente referida (porque fazer boas narrações não é tarefa fácil, ainda que Scorsese nos iluda do contrário), como pelo ritmo da montagem, e de uma sensação de novidade. Ainda que sendo algo familiar, o filme parece ao mesmo tempo algo refrescante. É bom viver esses momentos iniciais tendo em conta que essa personalidade nunca mais é encontrada no restante filme (salvo alguns casos em que são usados uns freeze frames que, infelizmente, parecem também não ser assumidos na totalidade como parte da personalidade de Bandit).

Ainda que com este grande contraste, o filme sobrevive bem com o ritmo que leva e com o carisma do personagem principal, Robert Whitman (nome falso mais usado), que é um personagem com que facilmente nos deixamos envolver, por ser agradável, simpático e engraçado. Gostar de personagens criminosos não é de agora e gostar de personagens que caiem em graça não é difícil. Em Bandit, Robert Whitman é essa personagem. Fácil de seguir, fácil de ouvir, fácil de desenvolver empatia. A química entre os personagens pode não ser o ideal para se crer verosímil, assim como algumas opções narrativas, mas de alguma forma o filme consegue prender-nos a cadeira de uma forma não desconfortável.

Não é de estranhar que o filme seja previsível a partir do momento em que se resigna a jogar pelo seguro e deixar o risco de manter a tal personalidade familiar, mas de certa forma própria. Logicamente, algo previsível torna-se facilmente aborrecido, mas, por alguma razão que talvez contorne as fronteiras da lógica, Bandit não se faz sentir dessa forma. O grande problema talvez resida na sua incapacidade de manter o fio dramático, o lado mais emocional, mais humano, num patamar tão elevado como o que seria desejável para enriquecer a obra.

Em suma, Bandit é um filme que não assume uma personalidade arriscada, joga pelo seguro à procura de se tornar facilmente agradável e de ânimos leves, com um personagem simpático e carismático. A custo disso, é a perda da carga dramática que impede o filme de Allan Ungar de se elevar ao patamar seguinte. Um filme a ver, se as biografias do crime nos fascinam; ou para rir um pouco com a família, num domingo à tarde.

2/5
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