Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo (2022)

de Pedro Ginja

A história de Quim Roscas (João Paulo Rodrigues) e Zé Estacionâncio (Pedro Alves) começou em 2008 com a icónica série da RTP, Telerural (2008-2010), em que uma estação de televisão emite um programa de informação de fake news (quando o termo não estava tão em voga) apresentado por Quim e Zé. As notícias de uma localidade fictícia em ambiente rural aliado a um humor nonsense e baseado em clichês do interior profundo resultava em sketchs de curta duração de um mundo paralelo e bizarro, mas de um Portugal que parecíamos reconhecer.

Chegando a 2022, estamos num universo muito maior com a chegada à metrópole, Lisboa, e mais do que isso ao litoral de Portugal. Neste Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo, Quim Roscas descobre que recebeu uma avultada herança devido ao falecimento do seu pai, que desconhecia por completo. Muda-se de armas e bagagens para Cascais com Zé Estacionâncio e Piedade (Sofia Ribeiro) e vivem uma nova vida de luxo, bem diferente do que estavam habituados. Conseguirão eles adaptar-se a esta nova realidade sem se deixarem corromper?

Olhando para esta sinopse parecia que estaríamos perante um thriller, em que o protagonista trilha o seu caminho da pobreza para uma riqueza de triliões de milhões de “besouros” – como diria Quim e Zé -, mas o que temos é a história de “dois peixes” fora de água, e acima de tudo, longe do que tornava a série algo de diferente no panorama televisivo do início do Séc. XXI, a aldeia fictícia de Curral de Moinas. Enquanto por lá está, sente-se um charme rural, mas acima de tudo nostalgia de uma série marcante, mas rapidamente se começa a perceber um argumento demasiado simplista e constantemente a falhar timings cómicos. É difícil rir deste humor que perdeu o nonsense, se tornou inconveniente e roça muitas vezes o mau gosto. Mesmo quando entra em sketchs cómicos, a repetição de situações e clichês de género entra em territórios de misoginia difíceis de suportar para o espectador.

Nos actores, apenas João Paulo Rodrigues e Pedro Alves parecem à vontade com as personagens, enquanto Rui Unas faz o que pode com um vilão de papelão. Difícil mesmo é ver o sotaque incompreensível de Sofia Ribeiro, no papel de Adelaide, e grandes actores como Rui Mendes e José Eduardo a debitar frases sem nexo e desprovidas de qualquer influência no avançar da história, servindo de meros adereços. Em termos visuais, tudo muito desinspirado e sem uma linguagem própria que o distinga de outras propostas similares.

Como grande fã da saga de Quim e Zé e do, também nosso, Curral de Moinas é difícil ver esta transição para a longa-metragem, de um universo que tinha trazido tantas gargalhadas nos serões da RTP, e não ficar profundamente desiludido com esta adaptação.

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