Esta é a segunda parte do épico de ficção científica realizado por Zack Snyder, que prometeu ser o Star Wars (1977) da Netflix. Infelizmente, o ponto positivo que mais se destaca neste filme é o simples facto de não ser o primeiro.
Uma coisa é certa, deve ser a primeira vez que Zack Snyder consegue criar um consenso sobre uma obra sua. É certo que é na reprovação, não obstante, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado um avanço.
Após os eventos de Rebel Moon – Part One: A Child of Fire (2023), este segundo capítulo segue Kora (Sofia Boutella) e os rebeldes sobreviventes enquanto preparam-se para enfrentar as forças implacáveis do Mundo-Mãe, enfrentando traumas passados e as suas escondidas motivações atrás desta última batalha.
Esta história começa com uma narração a recapitular os eventos da parte anterior, o que diz bastante sobre a sua narrativa confusa e pouco memorável porque de facto é útil, mesmo para uma pessoa que veja os dois filmes de seguida.
Estamos perante mais um caso de um filme com duas horas de duração com potencial para uma curta-metragem. Percebe-se que o realizador está a tentar trazer uma aura épica, mas não é a enfiar slow motion de dois em dois minutos e exposições baratas de três em três que se chega lá. Pode soar bastante condescendente da parte de alguém que nunca teve essa audácia para escrever ou realizar um filme, mas já chegámos a um ponto em que Zack Snyder tem de se rodear por outros argumentistas e ouvir o que têm a dizer. É simplesmente inacreditável o tamanho da suspensão da descrença que nos é pedido e as inconsistências desta narrativa.
Uma das estratégias que os rebeldes usam para evitar que as tropas do Mundo-Mãe disparem sobre eles é colocar uns grãos que colheram no edifício principal onde habitam. Em que mundo, (pun intended), é que alguém acha que uma entidade intergaláctica se iria preocupar com meia dúzia de grãos. Como é que é concebível que recolher estes grãos seria a chave para que um dos seus inimigos fosse eleito para o senado? Segundo ponto, isto sequer tem senado? Mesmo que fosse um elemento importante capaz de manipular esta força inimiga, nunca é estabelecido o seu impacto ou necessidade nesta história. Rebel Moon – Part Two: The Scargiver é uma mixórdia de Dune com Star Wars, porém, com mais de quatro horas de duração, (no conjunto das duas obras), onde Zack Snyder pouco ou nada se preocupa em introduzir o universo ao público. Não há uma explicação do funcionamento do sistema político, as diferentes fações, culturas, formas de viver e pensar. Fica tudo demasiado restringido ao que circula no círculo mais próximo de cada personagem, o que acaba por limitar muito o potencial interesse para explorar esse universo.
O mais notável da preguiça do argumento surge quando temos essencialmente uma reunião dos AA no meio da história. É preciso um filme e meio para os personagens realmente se conhecerem; para sentarem-se à mesa e fazer um enorme trauma dump. Necessário apenas porque seria impossível para a audiência (e as personagens) doutra forma saber as suas motivações, personalidades e a razão de serem.
Um dos outros vários pontos que desafiam a lógica desta narrativa é a forma como, num prazo de cinco dias, os rebeldes conseguem concluir a sua colheita e treinar meia dúzia de camponeses para lutar contra militares especializados que possuem tecnologia e armas mais avançadas. Os camponeses nem armas de fogo possuem, o que torna toda a situação ainda mais involuntariamente hilariante. Agora, caro leitor, pode estar a pensar, “certo, mas de certeza que usam o terreno como vantagem”. Não estaria errado, se o “usar terreno como vantagem” se limitar a uma trincheira no chão para usar uma bazuca e rebentar com um canhão inimigo. De resto, é bate de frente.
Existe também um uso exaustivo de Deus Ex Machina; É mesmo um abuso ridículo deste recurso que aparece demasiadas vezes, mas tendo em conta a proposta, compreende-se que esta seria a única forma de dar alguma esperança à história.
Sofia Boutella parece estar mais confortável na pele de Kora, na medida em que nesta segunda parte a sua personagem é um pouco mais aprofundada, além da unidimensionalidade atribuída no capítulo anterior onde a protagonista era apenas triste e irritada. O outro destaque é Ed Skrein que está funcional como um maníaco psicopata; nada que não fuja muito do clichê mas pelo menos convence.
Em termos de estilo, para os admiradores do realizador, decepção não vai ser problema, apesar de existir momentos em que o CGI está para além do questionável. Ainda assim, Rebel Moon – Part Two: The Scargiver é um filme que mira no épico, mas que acerta no diminuto. Explica o que não é explicável e tenta fazer com que o público feche os olhos a inconsistências demasiado óbvias para serem ignoradas.