Pinocchio (2022)

de Guilherme Teixeira

Realizado por Robert Zemeckis, Pinocchio é um belo caminho andado para consolidar a animação de 1940 como um verdadeiro clássico, porque, infelizmente, ainda não foi este live action que conseguiu captar a verdadeira essência e a magia dos filmes da Disney.

Geppetto (Tom Hanks) vê o seu desejo concretizado quando, a meio da noite, a fada azul (Cynthia Erivo) dá vida ao seu fantoche, Pinocchio (Benjamin Evan Ainsworth). Porém, para que Pinocchio se possa tornar num verdadeiro rapaz, o pequeno fantoche terá de se provar generoso, sincero e valente, com a ajuda da sua pequena consciência temporária, Jiminy Cricket (Joseph Gordon-Levitt).

Algo que faz bastante gente gostar do original é o facto de, para além de todo o humor característico, músicas memoráveis e cenas marcantes, a história explorar aquilo que todos nós eventualmente passamos, apesar de uns mais do que outros: a maturidade. Pinocchio nunca foi apenas uma jornada de um boneco de madeira que queria ser um rapaz, mas uma verdadeira aventura que explorava o quão difícil é crescer num mundo cheio de pessoas que querem fazer o mal. É a ideia de que só é possível ser verdadeiro com os outros se formos verdadeiros connosco e isso é o caminho para alguém se tornar naquilo que verdadeiramente quer ser.

Porém, esta mais recente adaptação parece não ter percebido esse conceito, focando-se apenas na superficialidade da proposta e apostando em momentos e em personagens que não acrescentam em nada à narrativa. Este filme não tem tantos momentos musicais – e os que tem são tão esquecíveis que nos dão a sensação de não existir. As referências às outras produções do estúdio são demasiado descaradas e até algumas cenas que parecem ter levado um copy paste do original, em momento algum conseguem reproduzir a mesma magia.

Há também uma enorme falta de perigosidade nas situações em que Pinocchio se envolve. Provavelmente, devido ao facto do live action se querer parecer demasiado com o original, faz com que as situações pareçam demasiado mirabolantes e, por consequência, artificiais – algo que por norma funciona bem nas animações, mas, neste caso, fica a sensação de estarmos a assistir a blocos de peças de teatro infantil.

Não se preocupem, jovens Padawans, porque nem tudo é uma catástrofe. A fotografia e o design de produção são muito bons e conseguem dar um toque de realismo e magia, mesmo que ínfimos, àquele mundo. Pelo menos assim o é até aos últimos trinta minutos, onde começa um festival de telas verdes que, com jeitinho, se alguém tiver tempo para fazer uma vistoria frame a frame, é capaz de saber qual é a marca das telas usadas.

Pinocchio consegue ser um filme agradável. O estilo é cativante e, apesar de não ter qualquer valor narrativo, a história anda sempre de um lado para o outro. Porém, o preço a pagar pelo excesso de entretenimento é o total falhanço da compreensão da história de Pinocchio e a mensagem que representa, dando lugar a um final anti-climático e, de certa forma, macabro. Um filme para as crianças verem e para os pais estarem no telemóvel, pois caso decidam ver provavelmente vão acabar deprimidos ao constatar aquilo que fizeram ao clássico.

2.5/5
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