Quando Scream surgiu em 1996, o panorama do terror era bem diferente do atual. Era claramente um género longe das grandes receitas de bilheteira e remetido para fenómenos de culto de um pequeno número de pessoas. Existem inúmeras regras discutidas entre os fãs de terror mas a única constante entre todas elas é o facto de o assassino usar sempre uma máscara. Um desses fãs de terror era Kevin Williamson que decidiu escrever um filme que combinava o habitual filme de terror, com diálogos que satirizavam os clichês dos mesmos e uma grande dose de humor.
Com a ajuda de Wes Craven na realização e um elenco de estrelas de cinema dos anos 90′, revitalizaram, por si só, todo o género de slasher movies (iniciado com Halloween em 1978), sendo um sucesso tanto comercial como da crítica especializada. Como qualquer história de sucesso em Hollywood, despoletou imediatamente a produção de uma sequela para o ano seguinte, mantendo tanto a qualidade como a receita de bilheteira. Foi a partir do terceiro filme que o “cansaço” surgiu e parecia o final de mais uma saga de terror. Até que, 11 anos mais tarde, surge o mais recente filme da saga e o regresso ao caminho certo.
Sendo impossível repetir a magia do original, chegamos a 2022 e à estreia do 5º filme do franchise, o primeiro sem Wes Craven, após a sua morte em 2015, e sem Kevin Williamson – escritor e autor original da saga. Novo sangue é recrutado para revitalizar a saga com James Vanderbilt e Guy Busick no argumento, e Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett na realização. Quem está de regresso é todo o elenco sobrevivente da série original para gáudio dos fãs, aliás, só com todos a bordo é que a produção deste filme se iniciou, precisando de 11 anos. Desde cedo se percebe que todas estas decisões foram acertadas e contribuíram para honrar a memória de Wes Craven.
25 anos após a famosa série de assassinatos, a morte regressa a Woodsboro. Um novo Ghostface aparece para perseguir um grupo de adolescentes, com o intuito de recriar o passado mortal da cidade. Cabe mais uma vez a Sidney Prescott (Neve Campbell), enfrentar o assassino mascarado e desvendar toda a verdade.
Continua a sequência inicial de ataque a mais uma vítima inocente e, pasme-se, usando um telefone fixo; continua o tom de sátira dos tempos modernos com destaque para a nossa constante dependência do telemóvel e de estar localizável a toda a hora (vida fácil para um assassino em série); continuam os ataques de Ghostface, aumentando a parada em termos de inventividade e grafismo nas sequências de morte; continuam as decisões infelizes das vítimas para evitarem serem mortas (a sério? Descer sozinho para uma cave?); continuam os one-liners após uma decisão inteligente ou asneira assumida; continua a haver dúvida até ao ultimo segundo de quem é o verdadeiro assassino e acaba por se descobrir que é o…… mordomo. Brincadeira, não é o mordomo. Ou será que é? Fica a dúvida.
Novidades, novidades é que não há muitas. E as que há, não posso falar muito. A única que posso falar é a capacidade do filme conseguir gozar com a própria saga que veio antes deste filme, sem qualquer problema ou pudor, enfrentando e rindo com os piores momentos da saga, os protagonistas do filme, os fãs fervorosos e até dos lendários Dewey (David Arquette), Sidney (Neve Campbell) e Gale (Courtney Cox). Ninguém escapa ao tom de crítica do argumento, conseguindo, por isso, um humor mais refinado. Atenção para um cameo surpresa absolutamente inesperado mas com todo o sentido – só para vos abrir o apetite.
Scream usa o legado de Wes Craven como uma medalha de honra dando aos fãs da saga tudo o que querem, mas sofre, por isso, do problema normal de qualquer Slasher, o de ser previsível na sua imprevisibilidade.