Rebel Moon – Part One: A Child of Fire (2023)

de Guilherme Teixeira

Numa distante pacífica lua, à beira de ser dominada por uma força tirânica chamada Mundo-Mãe, Kora (Sofia Boutella), uma antiga guerreira deste poder inimigo, parte numa rebelde aventura para juntar um grupo de guerreiros dispostos a defender um pequeno vilarejo contra esta ameaça, neste novo filme original de Zack Snyder.

Bem, escrever uma crítica sobre um filme que me deixou sem palavras acaba por ser uma tarefa deveras complicada. Rebel Moon – Part One: A Child of Fire parece uma paródia feita por alguém que queria imitar ao expoente máximo as manias de Zack Snyder e teve o aval e o orçamento da Netflix para o fazer.

Os slow motions são usados de uma maneira para lá de exagerada: um olhar para o lado; sementes a cair no chão… Parece que o realizador precisa que cada movimento tenha uma dimensão épica. Problema, é que o tempo infinito que demora para um grão cair no chão, depois é compensado por exposições baratas. Chega a um ponto em que parece que estamos a ouvir um audiobook ou um podcast e que as imagens são meramente ilustrativas.

As cenas de ação conseguem ser paradoxalmente confusas dado que ao meio de tanta câmera lenta, seria de esperar que estas sequências fossem claras e visíveis, porém a mistura entre este recurso e a transição para o ritmo normal, conjugado com uma teia de cortes na edição, faz com que as cenas sejam bastante confusas. Simplesmente não dá para ter a noção de quantos inimigos ou de onde as ameaças surgem. É uma mescla de cenas de ação pouco inspiradas.

A busca pelos guerreiros também é feita de uma forma que só pode ser descrita como preguiçosa e previsível. Em certo momento até parece que os personagens querem dizer algo ou fazer perguntas mas, obviamente, a noção de que fazê-lo seria demasiado comprometedor para a história a longo prazo impede esse aprofundamento. É tudo tão conveniente que bastava um email com a localização do planeta para juntar a malta toda.

As construções do mundo também padecem dos mesmos defeitos que rodeiam esta obra. São paradoxos atrás de paradoxos. É impressionante como Zack Snyder consegue criar algo visualmente maravilhoso, mas que não o é no contexto em que está inserido. Parece que tudo o que é criado neste universo tem o único proposto de ser esteticamente bonito e não necessariamente com o objetivo de captar o interesse do público e o seu desejo em querer explorar mais sobre este universo.

Sofia Boutella convence nas capacidades físicas da sua personagem, embora pareça ter abdicado do seu carisma. Meu deus, que pessoa mais deprimente para se seguir durante duas horas. Kora é o tipo de pessoa que no meio de uma festa de aniversário sente a necessidade de dizer algo incrivelmente horrível só para matar o mood. A missão é difícil (pelo menos é isso que a narrativa quer que o público acredite apesar das constantes provas em contrário), e as chances de sucesso são baixas, mas se nem a protagonista acredita, quanto mais a audiência. Existem pequenos momentos em que a vontade está em ver os vilões ganhar só pela positividade na sua atitude.

O terceiro ato é um verdadeiro teste à capacidade do público de aceitar as maiores inconveniências e perdas de tempo. Um verdadeiro Zack Snyder 101: slow motion para aqui, conveniências para acolá; um vilão que, apesar de convencer, não sai muito daquilo que já se viu noutras obras e que se mostra um valente durante o tempo todo, mas que de repente deixa de ser tão poderoso só para o bem da narrativa. São os seus piores instintos a dominar o seu novo filme.

Rebel Moon – Part One: A Child of Fire é um piloto de avioneta que sonhava ser astronauta. Tem vários momentos que conseguem de facto vislumbrar visualmente, não obstante ser um vislumbre em prol de um charme que nunca chega a se justificar na narrativa. É um filme que se preocupa demasiado em tentar seduzir visualmente e com isso tenta compensar com exposições baratas que tornam a história demasiado chata, falhando a esconder esse mesmo propósito de tentar construir uma ligação entre o público e as personagens que, verdadeiramente, nunca se concretiza pelo simples facto de não haver tempo suficiente para se darem a conhecer.

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