KPop Demon Hunters (2025)

de Gabriela Castanheira

KPop Demon Hunters mostra claramente que a Sony Pictures Animation continua a afirmar-se como uma das forças dominantes no cinema de animação. Depois de conquistar o público com a saga Spider-Verse, que revolucionou o género, o estúdio volta a surpreender com um filme ousado, vibrante e cheio de energia. Realizado por Maggie Kang e Chris Appelhans, o filme combina ação, música e fantasia de forma única.

A história acompanha Rumi, a protagonista, com voz de Arden Cho (canto por EJAE), e as suas melhores amigas Zoey (voz de Ji-young Yoo, canto por Rei Ami) e Mira (voz de May Hong, canto por Audrey Nuna). Juntas, formam o grupo de K-Pop, HUNTR/X, mundialmente famoso. Mas, para além do estrelato, elas guardam um segredo: são caçadoras de demónios. Este legado é herdado de gerações, e Rumi foi acolhida por Celene (voz de Yunjin Kim, canto por Lea Salonga), uma mentora que reuniu as três para proteger o Honmoon – uma barreira mística criada há milhares de anos para impedir que demónios invadam o mundo humano.

Quando chega o momento de reforçar o Honmoon, através do lendário ritual do Honmoon Dourado, Rumi adoece e perde a voz. Essa vulnerabilidade abre espaço para a maior ameaça: o demónio Jinu (voz de Ahn Hyo-seop, canto por Andrew Choi), que convence o rei dos demónios a deixá-lo criar uma boy band rival, os Saja Boys, com o objetivo de seduzir e dominar a humanidade. É a partir daqui que a narrativa se intensifica, misturando espetáculo musical com uma luta pela sobrevivência.

O filme brilha não só pela sua história, mas também pela animação, que combina técnicas 3D com expressividade de anime e manga, criando personagens cheias de vida e emoção. Essa identidade visual distinta encontra eco na banda sonora: as músicas de HUNTR/X não só fazem parte da narrativa, como também conquistaram o público fora das salas de cinema. O álbum entrou diretamente no top 10 global com várias faixas, tornando-se uma das soundtracks mais ouvidas do ano – um feito pouco comum para filmes de animação ocidentais.

Mas KPop Demon Hunters não é apenas cor e espetáculo. Tanto as HUNTR/X como os Saja Boys servem de espelho à forma como a indústria do K-Pop trata os seus artistas. Abby representa a sexualização dos ídolos masculinos; Baby, a infantilização. Do lado das HUNTR/X, Zoey lida com o estigma de ser “estranha”, enquanto Mira sofre com a perceção de frieza. Já Rumi enfrenta a metáfora mais clara: a necessidade constante de esconder as suas falhas. É uma crítica subtil, mas poderosa, à exigência de perfeição que domina a indústria.

Essa camada crítica ganha ainda mais força na relação entre Rumi e Jinu. Embora antagonista, Jinu revela vulnerabilidades que o aproximam da protagonista, criando uma empatia rara entre herói e vilão. O romance que surge não cai em clichés; pelo contrário, serve como veículo para explorar o mundo do filme e os seus contrastes. E, nesse universo, até as personagens secundárias brilham: o tigre e o corvo que acompanham Jinu oferecem momentos de humor e ternura, sendo o “Derpy Tiger” rapidamente adotado como favorito dos fãs.

No meio de tantos elementos, o filme podia facilmente cair nos problemas comuns das animações musicais – obras que muitas vezes são vistas como superficiais ou descartáveis como por exemplo o filme Sing (2016). No entanto, prova exatamente o contrário: KPop Demon Hunters é envolvente, visualmente impressionante e emocionalmente eficaz. As músicas continuam a ecoar muito depois dos créditos, e a mistura entre ação, crítica social e fantasia transforma-o num dos grandes títulos do ano.

Com sequências vibrantes, um romance atípico, comentários certeiros sobre a indústria do K-Pop, humor inteligente e uma banda sonora memorável, o filme chega perto da perfeição. Mais do que uma animação musical, é uma obra que mostra como a música pode ser uma arma de transformação, com o poder de mudar o mundo – basta ouvirmos.

4.5/5
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