Spider-Man: Across the Spider-Verse (2023)

de Francisca Tinoco

Uma semana depois do lançamento de mais uma adaptação live-action da Disney com The Little Mermaid (2023), a Sony veio defender a honra do cinema de animação, demostrando de forma inquestionável todo o potencial deste meio tão único. Já o tinha feito em 2018 com Spider-Man: Into the Spider-Verse, mas esta sequela não só estreou no momento certo, como conseguiu superar um filme que por si só já era quase perfeito.

Spider-Man: Across de Spider-Verse dá continuidade à história começada pelo seu antecessor, visitando Miles Morales (V.O. Shameik Moore) e Gwen Stacy (V.O. Hailee Steinfeld) uns tempos depois da aventura que partilharam juntos no primeiro filme. Ambos sentem a falta um do outro, enquanto procuram o seu lugar num mundo que lhes parece cada vez mais hostil e alienador. Spot (V.O. Jason Schwartzman) serve como o principal vilão do multiverso, num filme que é muito mais do que a típica história de perseverança contra o mal.

O desenho das personagens e do mundo fantástico deste franchise é logo a primeira coisa em que se repara. O estilo único do primeiro filme amadurece neste segundo, com uma maior exploração de todo o potencial da cor enquanto instrumento narrativo. Cada plano sozinho é uma obra de arte, conferindo uma personalidade vibrante e destinta a cada personagem e a cada universo, mas o seu verdadeiro valor só emerge quando animado. Desde as micro-expressões das personagens e alusões ao formato originário da banda desenhada, aos enquadramentos e movimentos de câmara replicados pela animação 2D e 3D, Across the Spider-Verse salta para fora da tela numa experiência imersiva.

Artisticamente, é dos filmes mais excepcionais alguma vez feitos, mas o que o eleva de puro espetáculo visual a êxito cinemático é o coração presente no seu enredo. É uma história inerentemente jovem, que retrata sentimentos e experiências muito próprias dos últimos anos da adolescência e primeiros da vida adulta. A busca por comunidade, o medo de desiludir aqueles que nos criaram, o isolamento físico e emocional, e a coragem de romper com o status quoAcross de Spider-Verse emprega os conceitos rocambolescos do multiverso e dos super-heróis para explorar todos estes temas tão universais. E fá-lo com sucesso, pois a luta de Miles rapidamente se torna nossa.

Não será spoiler dizer que o filme conta com ainda mais participações especiais dos milhares de Homens-Aranha que populam o multiverso, pois basta ver o trailer, ver o primeiro filme, ler o título, ou deparar-se com qualquer material promocional para o saber. O que parecerá, numa primeira impressão, um artifício para apelar às paixões de fangirls e fanboys, nas mãos do luso-americano Joaquim Dos Santos, e dos americanos Kemp Powers e Justin K. Thompson, assim como dos argumentistas Phil Lord, Christopher Miller e David Callaham, torna-se numa verdadeira homenagem a um dos mais amados super-heróis do nosso zeitgeist.

Sim, a convergência das várias versões da mesma personagem resulta numa boa dose de comédia, peripécia e mais do que alguns gritos de surpresa e entusiasmo, mas é, ao mesmo tempo, usada para desconstruir as possibilidades narrativas dum género tão formulaico como o dos super-heróis e questionar o método por detrás das infindáveis adaptações da história do Homem-Aranha. O que é que o faz tão popular? Será a tragédia pessoal? O sacrifcío? Ou será a sua qualidade banal de rapaz ou rapariga adolescente igual a qualquer pessoa que possamos encontrar no nosso dia-a-dia? Serão os romances? Os laços familiares? Ou será o facto de conseguir trepar paredes?

Spider-Man: Across the Spider-Verse consegue dar azo a todas estas discussões, permanecendo, mesmo assim, na sua essência, um drama familiar sentido e inspirador, repleto de sequências de ação de arregalar os olhos. Tudo isto aliado a um design tão fantástico e grandioso que, durante duas horas e vinte minutos, nos esquecemos que a vida real não é igualmente brilhante.

4.5/5
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