Fixed (2025)

de Gabriela Castanheira

À primeira vista, Fixed, realizado por Genndy Tartakovsky – conhecido por Samurai Jack (2001-2017), Dexter’s Laboratory (1996-2003) e Primal (2019-2022) – parecia uma das surpresas mais refrescantes do ano. A aposta da Sony Pictures Animation numa longa-metragem em 2D, num mercado dominado pelo 3D e por híbridos digitais, criava grande expectativa. E, no aspeto visual, o filme não desilude: cores vivas, linhas com textura de lápis e um estilo que remete às séries do Cartoon Network no fim dos anos 90, incluindo a opção de ocultar os rostos humanos. É um regresso bem-vindo à animação tradicional e uma prova de que o 2D continua a ter fôlego para encantar. O problema é que, para além da aparência, o filme raramente sabe o que quer ser.

A narrativa segue Bull (V.O. Adam DeVine), um cão que descobre que será castrado na manhã seguinte e, por isso, decide viver uma última noite de liberdade. O seu objetivo é conquistar a cadela dos seus sonhos, Honey (V.O. Kathryn Hahn), uma estrela canina de competição que carrega o peso da perfeição e da pressão social. O obstáculo óbvio é Sterling (V.O. Beck Bennett), o galgo de raça pura que também disputa a atenção dela.

A premissa tinha espaço para explorar identidade, masculinidade, estatuto social e vulnerabilidade emocional. Por vezes fá-lo, mas esses lampejos são rapidamente abafados por piadas sexuais constantes, situações gráficas de gosto duvidoso e um humor que prefere a vulgaridade à inventividade.

A questão não é sequer a escolha de um humor adulto, mas sim a sua falta de criatividade. Filmes como South Park: Bigger, Longer & Uncut (1999) ou mesmo Sausage Party (2016) já mostraram que é possível usar vulgaridade de forma inventiva e satírica, criando um discurso por trás da provocação. Séries como BoJack Horseman (2014-2020) provaram que a animação adulta pode equilibrar piadas irreverentes com reflexão emocional. Fixed, no entanto, parece acreditar que basta repetir o mesmo gag sobre castração durante hora e meia para prender o público. A piada inicial, que até poderia ter graça pelo absurdo, esgota-se rapidamente, mas o argumento insiste em ressuscitá-la sem fôlego, tornando-se cansativo.

Apesar disso, é inegável que o filme ganha alguma vida graças aos companheiros de Bull. Rocco (V.O. Idris Elba) impõe-se como o amigo forte e protetor, Lucky (V.O. Bobby Moynihan) traz um otimismo inocente e Fetch (V.O. Fred Armisen) acrescenta excentricidade cómica. Juntos, ajudam a manter o filme em movimento e proporcionam momentos genuínos de amizade. Infelizmente, até estas personagens acabam por ser arrastadas para o mesmo tipo de humor repetitivo, reduzindo o impacto que poderiam ter tido.

O resultado é um filme que não consegue definir o seu público-alvo: demasiado gráfico e sugestivo para crianças, e demasiado pueril para adultos. É aqui que reside a verdadeira frustração: a animação é bela, fluída e feita com um carinho raro de ver, mas está ao serviço de uma narrativa que nunca atinge o seu potencial. É como contemplar uma tela pintada com mestria, entretanto coberta por rabiscos que escondem a beleza que poderia brilhar.

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