Together (2025)

de Patrícia Fonseca

“Plato describes humans as originally having four arms, four legs and two faces. Fearing their power, Zeus split them into two, creating the longing for one’s other half.”

Expressões como “alma gémea”, “foram feitos um para o outro”, “duas metades da mesma laranja” ou “cara-metade” são completamente corriqueiras e estão de tal forma embrenhadas na nossa cultura que nem pensamos no seu verdadeiro significado. São ideias antigas mas repetidas ao longo dos tempos, tudo indica que até Platão sugeria que apenas estamos completos quando encontramos o nosso par perfeito. Esta visão fatalista ou apenas romântica pode ser uma fonte de esperança ou de uma grande pressão social para a encontrar correspondência ou ainda o mote para um filme que leva esta ideia à letra num body horror de 102 minutos ideal para levar um date.

Together escrito e realizado por Michael Shanks mostra o terror da vida conjugal. Combina não só os medos e ansiedades partilhadas por um casal quando enfrenta uma grande mudança, mas também todas as consequências da codependência, perda de individualidade e ressentimento acumulado. O filme começa com uma equipa de salvamento à procura de duas pessoas numa floresta, acompanhamos dois cães de busca que se aventuram numa caverna e bebem a água que se encontra lá depositada. O que acontece aos cães é grotesco demais para descrever numa crítica e o realizador também achou o mesmo, porque mal conseguimos vislumbrar a criatura que deles resulta, ainda assim, esse flash permite-nos ter logo uma ideia daquilo que vai acontecer aos protagonistas mais tarde.

A história dá um salto e vamos para uma festa na cidade onde vemos um casal, Tim e Millie (Dave Franco e Alison Brie), que está a passar por um período complicado, prestes a mudar-se para uma zona rural, longe de todos os amigos e da vida a que estavam habituados. Assim como eles, os amigos parecem preocupados com a mudança e o passo que ambos estão a dar na sua relação. Apesar da preocupação, acabam por se mudar. A adaptação não é fácil e nada parece estar a seu favor. Fechados em si, num sítio desconhecido, tudo à sua volta parece ainda mais sombrio. A nova casa parece esconder alguma coisa que, a certa altura, nos remete um clássico haunted house.

Numa tentativa de se reconectarem e explorar a zona envolvente, decidem fazer uma caminhada na floresta, até que se perdem. Começa a chover e, como se não bastasse, acabam por cair num misterioso buraco. Como a narrativa e o próprio título nos deixam intuir, acabam por beber da mesma água que os pobres animais da introdução e aí começam a acontecer as coisas realmente estranhas. Mas não muito. As poucas cenas gráficas do filme são bastante tímidas, chegam a ser até um pouco pudicas, apesar de vermos uma pilinha aqui e umas maminhas ali, essas aparições acontecem num piscar de olhos, e sangue então nem vê-lo, o que até pode ser uma escolha do realizador, mas dá mais a sensação que é falta de budget ou de tempo.

A aglutinação dos corpos é sempre muito limpinha e pouco arrepiante, existem algumas ideias interessantes como a cena mais promovida do filme, com a junção dos olhos, mas temos só um pequeno tease e não vemos realmente nenhum desenvolvimento, apenas o início de uma ideia sem conclusão, o que acaba por se tornar bastante frustrante. Assim como no terror deste suposto body horror, o payoff final acaba por ser um tanto decepcionante, depois de um terceiro ato fraco, que mostra demasiado e não explica grande coisa, não temos tempo suficiente para assimilar o grande desfecho que acaba por se revelar apenas murcho.

O ponto mais fraco é mesmo o guião, que não é capaz de conferir profundidade a este tema tão interessante, levanta várias questões que deixa por explicar. É altamente previsível e preguiçoso usando os mesmos mecanismos repetidos até à exaustão e ainda abusa de jump scares despropositados apenas porque não consegue ser realmente assustador em mais nenhum momento.

I don’t even think this is the right tool for the front porch!

A ideia de ter um casal real para interpretar estas personagens acrescenta bastante ao filme e é visível a química entre Dave Franco e Alison Brie. No entanto, apesar da sua harmonia enquanto dupla, sentimos bem o desequilibro nas suas interpretações. A excelente entrega de Brie contrasta com a falta de versatilidade de Franco, que brilha apenas no tom em que estamos habituados a vê-lo, de comédia, que entrega sempre na perfeição com o seu timing impecável, mas que, apesar disso, nos distrai nos momentos mais dramáticos da história.

Together acabou por ser a escolha ideal para o meu regresso após uma pequena pausa para casar, a premissa não podia ser mais pertinente e mesmo com os seus defeitos acabou por ser uma viagem divertida na companhia do meu marido, não nos deixou completamente colados, mas ficamos um pouco mais juntos.

2.5/5
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