Me and Earl and the Dying Girl (2015)

de Diogo Carriço

Um drama tocante, com personagens engraçadas e uma honestidade que traz uma abordagem diferenciada de outros filmes do mesmo género, Me and Earl and the Dying Girl, de Alfonso Gomez-Rejon, é um filme sobre a amizade entre Greg, Earl e Rachel, a rapariga referida no título, que está a morrer. Greg (Thomas Mann) é o típico adolescente americano que sente que não pertence e tem dificuldade em criar relações de afeto; Earl (RJ Cyler) é o “parceiro” de Greg. Estes são melhores amigos, apesar de Greg parecer não o querer admitir, e juntos fazem filmes de homenagem a outros filmes, dando-lhes uma versão engraçada retirada do título original e criando um enredo cómico a partir daí. Rachel (Olivia Cooke) é uma adolescente normal, tal como Greg e Earl, mas foi recentemente diagnosticada com leucemia e Greg é obrigado pela sua mãe a confraternizar com ela.

Mais um filme sobre uma pessoa que adoece que explora a maneira como a doença pesa, tanto na personagem que a tem como nas pessoas à sua volta. Mas, ao mesmo tempo, é um filme que explora os temas de um típico coming of age sobre adolescentes que não se enquadram de certa maneira na micro sociedade de uma escola norte-americana. Pode parecer ao início que tenta lucrar do sentimento do público, mas revela-se diferente dos outros pelo seu meio condutor que suporta todos estes temas e que os explora diferenciadamente: o cinema. Me and Earl and the Dying Girl mostra a união que vem de ver filmes e de fazer filmes. Cinema é a ligação central de relação entre Greg e Earl, pois Greg parece ver a sua relação como nada mais do que uma parceria criativa, e cinema é o que realmente conecta Greg e Rachel nesta relação condenada. Este elemento traz uma sensação de autoconsciência ao filme, que lhe dá um tom cómico e serve de alívio ao público por estar a ver algo com o qual está familiarizado, mas de maneira refrescante.

Desde a sua introdução que mostra esta diferenciação dos restantes filmes com temas similares que saíram por volta da década de 2010. Está disposto a experimentar com géneros e conceitos, de maneira criativa, ainda que um pouco dependente do comum do cinema mainstream. Isto deve-se ao guião que aprecia a sua arte, sendo por vezes um filme meta-cinema, com um uso inteligente e engraçado de intertítulos que vivifica a realização de Gomez-Rejon, inspirada em filmes de culto e clássicos, sem medo de aplicar tudo o que ama sobre a sétima arte. Trabalhando em conjunto com a direção de fotografia de Chung Chung-hoon, o duo explora movimentos de câmara, enquadramentos e o uso de luz criativos, inspirando-se nos filmes que marcaram a história do cinema, refletindo assim a apreciação das personagens principais pela sétima arte e adaptando-os à história destas personagens. Em relação às atuações principais, Olivia Cooke é o claro destaque do trio, mas o filme faz uso de caras mais conhecidas de séries de televisão e comédias para confortar o espectador, como Thomas Mann, Connie Britton, Nick Offerman e Jon Bernthal.

Quando Me and Earl and the Dying Girl acaba, ficamos com um sentimento estranho de tristeza e conforto, porque apesar de ser sobre uma relação que está condenada pela morte iminente de uma das suas personagens, é uma obra trabalhada com muito carinho e com todo o coração e alma de cada uma das pessoas envolvidas. Joga pelo seguro, não saindo muito da caixa, mas mesmo assim é uma carta de amor à sétima arte como meio de expressão e como esta coisa especial leva pessoas diferentes à mesma sala de cinema.

4/5
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