Está de volta a famosa série de antologia criminal da Netflix: Monster, originalmente criada por Ryan Murphy mas agora com uma temporada criada por Ian Brennan – Monster: The Ed Gein Story. As temporadas anteriores, Monster: The Jeffrey Dahmer Story (2022)que retrata o caso de um dos serial killers mais conhecidos do mundo com alcunha de “Milwaukee Cannibal”, e Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story (2024) que conta a história de um dos grandes casos criminais que marcaram a década de ’90, abrem portas para apresentar um novo criminoso e um dos primeiro dos Estados Unidos da América: Edward Gein. Ian Brennan apresenta-se como showrunner, argumentista e realizador principal desta série que, apesar de divulgada como “uma história real”, muito pouco tem de factual e é aí que surgem os grandes problemas desta nova temporada.
A narrativa constrói-se em torno da vida de Ed Gein (interpretado por Charlie Hunnam), um homem isolado, profundamente marcado pela figura controladora da mãe (Laurie Metcalf), cuja devoção doentia se transformou numa prisão mental. The Ed Gein Story explora de forma detalhada não só os crimes que cometeu – incluindo os assassinatos e o roubo de cadáveres -, mas também o impacto cultural que teve. Realizadores como Alfred Hitchcock (Psycho, 1960) e Tobe Hooper (The Texas Chain Saw Massacre, 1974) criaram ícones do terror mundial ao inspirarem-se diretamente na sua vida e nos seus crimes hediondos, mas obviamente distorcendo/alterando partes da sua história e dos seus atos. Tal como estes cineastas, a série faz exatamente o mesmo, acrescentando acontecimentos que não tiveram lugar nesta história e fazendo-nos questionar sobre o que foi real e o que foi inventado para obterem mais lucro.
Monster: The Ed Gein Story demonstra como a figura de Gein foi transformada pelo imaginário popular num arquétipo de horror, quando na realidade ele era um homem profundamente doente, provavelmente com episódios de esquizofrenia não diagnosticados, e que necessitava de ajuda médica. A série, tal como tantas outras que exploram estas temáticas, faz-nos questionar: quantos “monstros” nasceram da negligência e da incompreensão social sobre as doenças mentais?
Um dos aspectos mais notáveis desta temporada é o cuidado em contextualizar Gein dentro da sua época – uma América rural e religiosa, onde o discurso sobre saúde mental era praticamente inexistente. A série constrói uma visão complexa da sua pessoa, humanizando-o e tratando-o como vítima de uma doença mental e como vítma de uma família disfuncional, o que não se pode utilizar como desculpa para romantizar os seus atos macabros. Também tecnicamente tem destaques positivos: a montagem é eficaz e dinâmica, cada episódio (com cerca de uma hora) mantém o interesse constante, alternando entre o relato biográfico e as reflexões culturais. Não há momentos mortos; o ritmo é envolvente e conduz o espectador num crescendo psicológico até à desconstrução final da figura de Ed Gein.
Apesar de bem produzida e com momentos cinematográficos que nos mostram a forma como Ed inspirou não só cineastas como outros serial killers, Monster: The Ed Gein Story faz o mesmo que as temporadas que a antecederam: todos os seus assassinos são retratados como vítimas da sociedade e ficamos sem perceber a realidade dos factos.
Se querem ver uma obra fidedigna sobre Ed Gein, não será esta, pois no final das contas ficam mais perguntas do que respostas. Será a mente humana incapaz de entender o mal? Será que todos nós, independentemente do nosso passado, teremos sempre justificativas para os nossos atos maldosos?
