Crítica | Eenie Meanie (2025)

de Gabriela Castanheira

O novo título da 20th Century Studios, realizado e escrito por Shawn Simmons, surge como uma das apostas mais comentadas do ano no segmento de comédia criminal e ação estilizada. Depois de ter criado a série Wayne (2019), Simmons estreia-se nas longas-metragens com um projeto que, desde os trailers, prometia intensidade, humor negro e perseguições automóveis de cortar a respiração. O resultado final foi recebido com opiniões divididas, mas despertou interesse precisamente por tentar seguir a linha de autores maiores do género, como Quentin Tarantino.

Logo à primeira vista, Eenie Meanie revela-se um filme de grande energia visual. As perseguições de carro são filmadas com ousadia e uma montagem que privilegia o impacto imediato, criando momentos que não ficariam deslocados em filmes como Death Proof (2007). Tal como Tarantino nesse título menos consensual, Simmons recorre à fisicalidade dos veículos, aos embates secos e à proximidade da câmara com o asfalto para imprimir autenticidade. No entanto, enquanto Tarantino usa esse registo como comentário meta-cinematográfico sobre exploitation e “grindhouse cinema”, Eenie Meanie utiliza-o sobretudo como espetáculo, sem a mesma carga autoral ou subversiva.

A banda sonora, composta por Bobby Krlic (The Haxan Cloak), mistura peças originais tensas com uma seleção variada de músicas que vão de Ghostface Killah a Mahalia Jackson. O uso de “needle-drops” é inevitavelmente comparado ao trabalho de Tarantino, em obras como Pulp Fiction (1994) ou Jackie Brown (1997), onde a música cria ironia, contraste ou comenta a ação. Aqui, a escolha musical funciona mais como combustível rítmico do que como construção de comentário narrativo. Apesar disso, reagimos positivamente à energia que estas canções transmitem, mesmo que falte a sofisticação contextual típica de Tarantino.

Na frente narrativa, seguimos Edie (Samara Weaving), ex-condutora de assaltos que tenta levar uma vida normal como empregada de banco. Quando o seu ex-namorado John (Karl Glusman) se envolve com a máfia, Edie é obrigada a regressar ao crime, aceitando participar num assalto a um casino para o salvar. A sinopse é simples e sem grandes desvios, funcionando como pretexto para cenas de ação e diálogos carregados de humor negro. É precisamente aqui que a comparação com Tarantino volta a impor-se: Simmons tenta replicar o ritmo das conversas aparentemente banais que, em Reservoir Dogs (1992) ou Pulp Fiction, criavam camadas de ironia e tensão. Contudo, em Eenie Meanie, muitos desses diálogos soam mecânicos e pouco naturais, não atingindo a mesma espontaneidade ou mordacidade.

O elenco é, ainda assim, um dos grandes trunfos da obra. Samara Weaving carrega o filme com uma performance que combina fragilidade e determinação, provando ser uma sucessora natural das “heroínas improváveis” do cinema contemporâneo. Jermaine Fowler e Randall Park acrescentam humor ao registo, enquanto Andy Garcia e Steve Zahn dão peso às figuras secundárias. A presença de Marshawn Lynch surpreende pela entrega cómica, mesmo que o seu papel seja limitado. Ainda que o carisma dos atores seja inegável, algumas personagens parecem inseridas apenas para encher espaço, não contribuindo de forma decisiva para a narrativa.

A grande crítica, partilhada pela maioria do público e pela imprensa, recai sobre a inconsistência tonal. O filme oscila entre ser uma comédia de ação divertida, um thriller dramático sobre redenção e uma paródia consciente do género. Tarantino sempre dominou essa mistura — em Kill Bill (2004), por exemplo, cruza artes marciais com melodrama e exploitation sem perder coerência. Simmons, por outro lado, ainda não encontra uma voz única: Eenie Meanie soa demasiado dependente das referências, sem alcançar identidade própria.

Apesar destas fragilidades, é inegável que o filme tem o seu valor como entretenimento. Para muitos espectadores, funciona como um “popcorn movie” estiloso, com ritmo constante, visuais apelativos e momentos de humor eficazes. A obra pode não ficar marcada como um clássico, mas oferece uma experiência divertida, especialmente para quem aprecia a vertente mais leve e exagerada do género.

Sei que menciono ao longo da crítica o nome de Tarantino imensas vezes mas é impossível não ser mencionado devido à tamanha influência que tem nesta obra. Eenie Meanie posiciona-se num terreno curioso: é um filme que tenta beber de Tarantino sem nunca alcançar a densidade ou o comentário cultural dos seus trabalhos. Contudo, para uma estreia em longa-metragem, mostra um realizador com potencial técnico e um elenco empenhado em manter o público entretido.

3/5
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