Brick (2025)

de Antony Sousa

Já estavam com saudades de ouvir alemão depois da série Dark (2017-2020) ter acabado? A Netflix trata disso. Philip Koch recebeu luz verde para escrever e realizar este thriller de ficção científica, resta só saber se o produto final consegue sobressair ou se não passa de mais um tijolo das centenas que compõe a casa da plataforma de streaming.

Tim (Matthias Schweighöfer) e Olivia (Ruby O. Fee) esbarram num acontecimento misterioso no seu prédio. Da noite para o dia passou a ser impossível sair de casa, dado todos acessos para o exterior estarem bloqueados por uma espécie sofisticada e aparentemente inultrapassável de tijolo. Agora o casal terá que unir-se como nunca para quebrar esta parede que os separa da liberdade.

A diversidade de premissas que encontramos em filmes da Netflix é assinalável, dando por vezes a ideia de que para fazer um bom pitching com executivos da plataforma é apenas necessário criar uma superfície extravagante à história. Brick é intrigante, até não saber mais como manter o mistério inicial. Começamos com uma leve introdução do que está a contaminar o relacionamento de Tim e Olivia. Sem perdermos muito tempo, por meias palavras torna-se claro o drama que originou a frieza entre os dois. Rapidamente somos conduzidos para o dilema central do enredo. E da mesma forma que as personagens se sentem encurraladas pela estranha aparição de tijolos futuristas, nós sentimos que gradualmente dependemos cada vez mais do que a conclusão do filme ditará para podermos justificar todo um desenvolvimento limitado e elevarmos a nossa avaliação do mesmo. À medida que os nossos protagonistas se vão aliando à vizinhança, a trama ganha novas cores e acumulamos esperança num desfecho surpreendente, no entanto, essa alavanca de energia esgota-se pouco tempo depois de ser puxada. Facilmente entendemos o propósito de cada nova personagem, o que nos leva a prever, com demasiado acerto para o nosso próprio bem, o que virá a seguir.

Matthias Schweighöfer e Ruby O. Fee agarram com competência as rédeas do lado dramático de Brick, interpretando os momentos mais intensos com bravura e verdade. Ainda assim, apesar de bem conseguido, esse conteúdo do filme é fugaz, o que restringe o potencial humano da história, que nos faria empatizar mais com as personagens e nos faria “lutar” mais por elas do lado de fora do ecrã. Marvin (Frederick Lau) e Ana (Salber Lee Williams) interpretam o outro casal da história, casal esse bastante contrastante com o principal. Marvin é instável e impulsivo, raramente toma boas decisões e por norma as decisões que toma resultam em consequências negativas para todos. Contudo, Frederick Lau cria um Marvin que, tendo todas as características da personagem bronca para a qual passados alguns minutos já não temos paciência, é também o escape humorístico do filme e acima de tudo a pessoa com quem mais temos afinidade, o que diz muito do trabalho do actor alemão e um pouco sobre a lacuna sentida nas outras personagens.

Em suma esta nova produção alemã chama a atenção, mas não contém o suficiente para ficar gravada na nossa memória. Nem a ficção científica é explorada ao ponto de acender uma faísca no nosso cérebro, nem o mistério sustenta o interesse até ao fim. Quanto mais próximos do final estamos, menos ideias parecem existir no argumento. Talvez algumas das ideias estejam guardadas para uma sequela, aquele objectivo eterno destes projectos. Até lá fica uma imagem meia desfocada do potencial perspectivado pela premissa.

2.5/5
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