Crítica | Zootopia 2 (2025)

de Antony Sousa

O mundo animal mais humano de sempre está de volta e traz novas aventuras para a dupla Judy Hopps (V.O. Ginnifer Goodwin) e Nick Wilde (V.O. Jason Bateman)! Quem viu o primeiro Zootopia (2016) e ansiava por este segundo capítulo tem razões para sorrir, porque mantém-se o humor, a animação com pormenores bestiais e a dinâmica irresistível dos nossos heróis, adicionando novas personagens que ajudam a colorir o universo Zootrópolis.

Zootopia 2 começa pouco tempo depois do final do primeiro filme, ou seja, logo após a captura da vilã Bellwether (V.O. Jenny Slate), momento que representou a elevação da coelha Judy e da raposa Nick ao estatuto de salvadores da cidade. Judy e Nick são agora polícias, oficiais de justiça com uma sede de mostrar serviço que acaba por ser contraproducente e os deixa fragilizados perante os seus colegas. Porém, no meio da alhada em que se meteram, podem ter encontrado um segredo há muito guardado que só a persistência e a coragem dos dois poderá desvendar.

O ritmo do desenvolvimento deste novo caso na cidade de Zootrópolis é proporcional ao nosso envolvimento com cada novo obstáculo que se depara no caminho dos protagonistas. Não bastava a ligação criada há 9 anos atrás e agora ainda nos sentimos mais amigos destes dois parceiros contra o crime. Os acontecimentos desenrolam-se uns atrás dos outros, como um bom filme de aventura, e as diferenças entre as personagens estabelecem o tom humorístico, tal como a profundidade da relação de ambos que se torna assim mais real para nós. Sentimo-nos convidados a investigar o que andam a tramar os vilões e a apontar para o ecrã quando aparece um amigo que ajuda a coelha e a raposa polícias a safarem-se de situações complicadas. Não se desperdiça um minuto de cena, servindo a história com todos os departamentos no mesmo patamar de competência, incluindo um casting de vozes original de excelência, liderado por Jason Bateman e Ginnifer Goodwin, que não podiam ser mais perfeitos para os seus respectivos papéis.

Para além da animação especialmente bem conseguida, e de uma edição de alto nível, existe uma temática subjacente em todo o enredo deste filme. Sabemos que o foco está nas diferenças de cada animal (tal como nós somos diferentes entre nós seres humanos, isto assumindo que me dirijo a seres humanos enquanto lêem este texto, se não forem, sejam bem-vindos na mesma!), mas Zootopia 2 carrega nesse ponto de uma forma que consegue ser ao mesmo tempo subtil o suficiente e bastante evidente, quase num registo político se não visualizarmos o filme com olhos de criança. É bastante clara a mensagem de que a bondade dos seres vivos não está pré-definida pela sua pele ou pela classe à qual possam ser normalmente associados, mas sim nas acções e intenções que estão dentro de cada um.

A nossa realidade está repleta de pessoas que vivem de créditos que não lhes pertencem, de uma história contada à sua maneira calando outras versões e de estatutos ganhos pela aparência e nome. Felizmente, existe a possibilidade de mergulharmos em realidades alternativas e animadas, que transpõem exemplarmente o nosso mundo, contudo com personagens que à primeira vista nos distanciam do que conhecemos e, olhando com mais atenção, nos fazem mirar no espelho tão bem as nossas feições interiores, acrescentando o factor esperança na união e civilização, contrariando os nossos dias de hoje.

Uma sequela digna do original, seguindo a mesma linha de pensamento sem deixar de evoluir e viver muito bem sozinho, apropriado para toda a família e todas as idades. Simples de compreender, contendo ainda assim premissas e ideias com várias camadas que se concretizam com selo de qualidade. Quando é assim, ninguém perde nada se vier um próximo. E, se possível, que a espera não dure 9 anos!

4/5
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