Grave Encounters (2011)

de Mercês Castelo-Branco

Quando não existiam ainda aplicações ou serviços de streaming, éramos obrigados a assistir àquilo que estivesse a dar no momento na televisão. Por vezes descobriam-se alguns canais que tinham programas interessantes ou fora da caixa, como o caso do “TLC” ou o “Odisseia”, onde costumavam passar vários programas sobre equipas super especializadas, que iam aos sítios mais assustadores à procura de sinais de vida paranormal.

Grave Encounters, dos Vicious Brothers (Stuart Ortiz e Colin Minihan), é ou tenta passar-nos a ideia de ser um desses programas. Logo no início temos um disclaimer do produtor executivo da “série de televisão” Grave Encounters que diz que não sabe o que se passou quando filmaram o sexto episódio, mas que pode garantir que nada foi manipulado. É difícil levar a sério este produtor executivo quando as filmagens são semelhantes ao The Office US (2005-2013): câmara no ombro, enquadramentos instáveis, zoom ins e outs bastante frequentes na cara do produtor, e um timing cómico visual parecido com essa sitcom.

A primeira meia hora é filmada neste formato enquanto a equipa entrevista pessoas que tomam conta do edifício que eles vão investigar, sendo este um antigo asilo. Os próprios ângulos e o excesso de representação por parte dos apresentadores, em vez de tornar uma experiência assustadora e credível, faz-nos rir e ponderar se não será assim em todos esses programas que já passaram pela televisão, criando uma sensação de paródia desses reality shows ridículos.

Diria que o ser humano é curioso e gosta bastante de encontrar provas de eventos inexplicáveis. Segue à procura mas muitas vezes falha ou para, com receio de se tornar num total falhanço. Nestes programas, parece que inventam coisas só para matar ligeiramente a curiosidade do espectador. No caso deste filme, após a primeira meia hora a brincar com esses clichês, o caos começa e esta equipa que estava tão entretida a gozar com os relatos paranormais associados a este espaço, rapidamente se arrepende. O facto do filme começar com um registo mais humoroso poderia dificultar a sua transição para o drama ou para o terror, mas essa mudança funciona porque a progressão narrativa é lenta o suficiente para manter o espectador investido, e a documentação mais realista.

Os jumpscares são os habituais, típicos deste subgénero. Found footage é sempre filmado à noite, com a clássica câmara apontada à cara das personagens, para vermos o seu ar aterrorizado, com a luz noturna ligada, repentinamente muda para outra perspectiva e do nada salta alguma coisa ou aparece um estranho movimento na zona periférica. Mas, neste asilo, vão-se perdendo lanternas e a luz do dia cessa em aparecer. Aos poucos a luz é inexistente e só o espectador tem acesso ao que está escondido em cada canto, através das filmagens, tornando tudo mais intenso.

O filme brinca com estes programas de televisão que devem lucrar bastante e na realidade nunca ou raramente encontram sinais paranormais significativos. Ao mesmo tempo, serve como uma pequena chamada de atenção para se ter mais cuidado e não ridicularizar demasiado estas entidades paranormais, pois o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Contudo, caso o façam, não se esqueçam de levar uma câmara para registar tudo. Ah, outro conselho, não peçam ao responsável do espaço para vos trancar lá dentro, isso também é capaz de ajudar a encurtar pesadelos paranormais como este.

3.5/5
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