Já se passaram uns anos desde que The VVitch (2015) voltou a trazer o folk-horror para a linha da frente do terror. Desde aí, a enxurrada de cinema à volta de ansiedades e horrores plenamente terrenos e humanos tem sido prolífica, e para cada tiro no porta-aviões, como Apostle (2018), tem surgido um Hereditary (2018) ou um Get Out (2017) para compensar o estrago. Superficialmente, Harvest, o primeiro filme em língua inglesa da grega Athina Rachel Tsangari, aparentava trazer consigo os ingredientes já familiares do género. Isto, por si, já seria meio caminho andado. Porém, meio caminho ficou por andar.
O filme baseado no romance do mesmo nome de Jim Crace, shortlisted para um Booker, segue sete dias numa pequena aldeia rural sem nome, algures em Inglaterra. Aqui, a vida é pacífica; os campos são lavrados durante o dia e a noite é espaço de música e dança sob o olhar atento, mas gentil, do dono destas terras, Charles Kent (Harry Melling) e do seu amigo Walter Thirsk (Caleb Landry Jones). Um incêndio sem explicação num dos edifícios e a chegada de três estranhos vindos de fora da comunidade inicia uma sequência de eventos que ameaçam o modo de vida destes aldeões.
Praticamente todos filmes deste género, principalmente se passados em Inglaterra e no meio de pastos verdes, devem alguma coisa a The Wicker Man (1973) e Harvest não é exceção, tanto na forma como usa as paisagens como a iconografia – máscaras, rituais e afins. A película de 16mm de Sean Price Williams traz textura ao terreno, às vestes e à lama de Harvest, e é tranquilamente a única parte do filme de Tsangari que se aproxima de ser excecional pois é também a única que parece viva.
O caminho traçado parece óbvio. Uma aldeia isolada invadida por estranhos, vindos da cidade a tentar capitalizar nos lucros que podem vir das terras; o delineamento de barreiras e fronteiras; a destruição de postos de trabalho. É a industrialização a chegar aos últimos lugares que ainda escapam à modernidade. Nenhum destes elementos é tratado de forma particularmente audaz, num filme em que inúmeros momentos parecem inconsequentes, desconexos e sem qualquer linha orientadora. Personagens entram tão rapidamente como desaparecem do enredo sem deixar marca, a não ser aquela que fica por vermos algo que nos parece familiar mas não estamos investidos o suficiente para querer saber porquê. A beleza do espaço não consegue esconder a superficialidade do texto ou a fraca qualidade das atuações, com Jones novamente a mostrar que é capaz do melhor e do pior numa mesma performance.
São mais de duas horas que nunca encontram qualquer rumo, um filme que nunca encontra chão onde assentar os pés e que vai lentamente corroendo a paciência de quem está deste lado, ao ponto da violência que chega no terceiro acto se tornar barulho de fundo que temos de tolerar até chegarmos aos créditos. Por terror não passa e por thriller tampouco, pois a letargia a que nos submete é tal, que a única coisa que nos causa ansiedade é o final ainda não ter chegado.