Os Looney Tunes regressam ao cinema! Aliás, apenas Daffy Duck e Porky Pig, os restantes ainda devem estar reféns de David Zaslav, um Elmer Fudd humano sem a graça deste caçador falhado, mais conhecido como o CEO da Warner Bros que tentou apagar esta longa-metragem e Coyote vs. Acme (2026) da existência, para poupar nos impostos. Não importa. It’s Zaslav Season e um Looney é mais do que suficiente para os nossos olhos esbugalharem, o nosso cérebro explodir e uma gigante marreta surgir do nada para esmagar repetidamente a nossa cabeça. Pode soar doloroso mas no meio da animação, é uma profunda expressão de paixão. Nada diz amor como um traumatismo craniano. Por falar em doloroso – após Space Jam: A New Legacy (2021) insultar o universo de Bugs Bunny e a própria sétima arte, The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie irrompe pelos céus para recordar o público do charme desta família lunática, iluminando a expansiva tela com uma verdadeira compreensão destas personagens, dos seus traços únicos, maníacos e disparatados, da sua alma cartoonish e do seu explosivo coração.
Melhores amigos desde infância, adoptados pelo agricultor Jim – cuja imagem é absolutamente hilariante, similar a uma mascote publicitária –, Daffy Duck (Eric Bauza) e Porky Pig (Eric Bauza) encontram-se actualmente sozinhos, como adultos desempregados, desesperados para salvar a sua casa – representativa da sua presente relação, com os pregos nos sítios errados –, de uma vistoria. Parece impossível, estando dominada por térmitas, musgo e uma substância estranha no telhado que Daffy acredita ter origens extraterrestres. Apesar destas circunstâncias, a dupla persiste na sua missão. Pelo menos, até confirmarem que as suspeitas do Duck estavam correctas. A gosma verde não é apenas uma gosma verde. Veio do espaço para consumir o mundo através de pastilha elástica – juro que no filme faz mais sentido. Independentemente da sua habitação deteriorada, da sua amizade fragilizada e do horror de arranjar um emprego, este pato e porco são a única esperança da humanidade, juntando forças com uma cientista à procura do melhor sabor de pastilha elástica – eu juro que no filme faz mais sentido –, Petunia Pig (Candi Milo), para derrotar um temível alien e salvar o seu planeta.
The Day the Earth Blew Up transporta os looney’s do campo de basketball e da prisão de serem encarados somente como propriedade intelectual, para o local onde nasceram e onde pertencem: a animação tradicional. Aproveito este instante para partilhar o meu entusiasmo pela aventura live-action de Looney Tunes: Back in Action (2003) – que continua a ser o meu favorito desta franchise –, no entanto, é neste meio que estas figuras sentem-se realmente em casa. Surpreendentemente, esta é a sua primeira longa-metragem inteiramente produzida em animação. Adeus celebridades, hello caricaturas! Nada de CGI aborrecido e genérico, como avistado na sequela referida, A Looney Tunes Movie produz um mundo reminiscente das criações de Max Fleischer, com backgrounds estáticos todavia detalhados e personagens imparáveis, constantemente em movimento, repletas de loucura e magia. Uma escolha brilhante, afinal, esta é simultaneamente uma paródia e uma homenagem ao horror sci-fi da década de 1950, populada pelo fascínio por alienígenas, pelo espaço, e pelo desconhecido. Desde o óbvio The Day the Earth Stood Still (1951), passando por Invasion of the Body Snatchers (1958), The Blob (1958), e até os filmes de Ed Wood, as referências não param, nem as piadas – e mesmo quando muitas esvaziam como um balão, a sua animação fantástica (um orçamento de 15 milhões de dólares? Como é possível?), mantém o público com um sorriso aberto, do início ao fim.
Neste Looney Tunes Movie, uma simples sequência onde o duo principal é encarregado apenas de premir um botão e puxar uma alavanca é transformada num sonho maravilhoso; uma demente fuga pelas ruas evoca o expressionismo alemão, e uma conversa entre três animais falantes num diner exibe mais vida do que o último filme da Marvel. Em cada frame sentimos o esforço e a monstruosa imaginação desta equipa; testemunhamos a sua paixão pelos protagonistas, pelos clássicos do cinema género B e pelos Merrie Melodies. Sendo um dos membros responsáveis pelo Looney Tunes Cartoons (2019-2024) – uma reinvenção deste elenco para o nosso ambiente actual, que fomentou esta produção –, Peter Browngardt é uma escolha natural para conduzir esta inédita aventura, estabelecendo uma aura de nostalgia, sem nunca depender somente dessa sentimentalidade, com uma perspectiva moderna e uma criatividade incandescente. No entanto, a sua estreia na realização de longas-metragens é notável na inconsistência do ritmo e na quantidade de piadas visuais desperdiçadas que deixariam Chuck Jones ligeiramente desapontado. É um filme divertido, repleto de momentos engraçados, mas carece do engenho lunático audiovisual das clássicas curtas que provocava enormes gargalhadas, dignas de assustar um Diabo da Tasmânia. Infelizmente, nem todos conseguem ser Chuck Jones.
Ainda assim, nada abate os Looney Tunes. Nem o Elmer Fudd, nem o Michael Jordan, nem o LeBron James, nem aliens, nem o horrível David Zaslav. Sinto a necessidade de apontar que a mera existência de The Day the Earth Blew Up é uma vitória. É importante recordar que este Looney Tunes Movie e o futuro Coyote vs. Acme estavam prestes a ser apagados da existência, para um estúdio multibilionário, cuja imagem de marca sempre esteve associada a esta família, poupar nos impostos. Os risos e a sua qualidade são um bónus. Os Looney Tunes vivem. A arte vive. É tudo o que importa. That’s all, folks!