É assim que a saga de The Conjuring acaba. Não com um susto mas com um suspiro. Saudades de James Wan, realizador dos primeiros dois capítulos desta franchise, que equilibrou jumpscares criativos com o drama familiar do seu charmoso duo de protagonistas. Michael Chaves, que entregou a terceira longa-metragem, é encarregado de concluir esta história mas, sejamos sinceros, o criador de The Nun II (2023) e The Curse of La Llorona (2018) não é uma escolha que emite propriamente confiança. Se Wan é um visionário, Chaves é um ciclope. The Conjuring: The Devil Made Me Do It (2021) foi resgatado maioritariamente pelas suas estrelas e por um segundo acto intrigante, enquanto os seus restantes elementos ficaram perdidos no Inferno – vamos assumir que o Diabo roubou o engenho cinemático. Infelizmente, o mesmo sucede em The Conjuring: Last Rites, excepto que, desta vez, Chaves diversifica ao tornar o primeiro acto intrigante.
Portanto, agradecemos novamente aos actores principais – obrigado, Patrick Wilson e Vera Farmiga –, pois ambos elevam este último filme da mediocridade com o seu carisma inegável, a sua forte química e a sua vibe encantadora. Os Warren da nossa realidade podiam ser pessoas horríveis mas estes Warren são formidáveis e impossíveis de desgostar; sentem-se genuinamente como parte da nossa família. Aliás, todos os scares deste Last Rites são completamente dispensáveis porque a vontade está em simplesmente conviver com esta equipa na sua reforma. As suas personalidades, as suas vidas privadas e, sobretudo, o acting desta dupla superam todas as Annabelles, Freiras, Crooked Men ou estúdios sedentos por sequelas. Seria suficiente para um epílogo grandioso e profundamente emocional. No entanto, este é um blockbuster de horror realizado por Michael Chaves – venha mais uma aparição genérica a berrar pelo ecrã.
Como mencionado, os Warren estão reformados. Após o ataque cardíaco de Ed (Patrick Wilson), e os avisos do seu médico, ambos decidem colocar o seu foco no ensino e na escrita de um livro biográfico, enquanto lidam com o crescimento da sua filha, Judy (Mia Tomlinson), prestes a sair do ninho para criar a sua própria casa. Um momento preocupante para estes investigadores do paranormal, conscientes das suas capacidades sobrenaturais similares às da sua mãe, Lorraine (Vera Farmiga), que parecem estar a intensificar na sua idade adulta. Apesar do seu repouso, o mundo espiritual continua a clamar pelas almas dos inocentes, dentro do seu lar como através da família Smurl, assombrada por uma desconhecida e perigosa entidade que ameaça as suas vidas. Resumindo, The Conjuring: Last Rites é sobre o último caso dos Warren.
O argumento de Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick é movido primordialmente por medo; não pelo medo que ocorre quando enfrentamos um corredor às escuras, pelo medo que sentimos de perder os nossos entes queridos e pelo receio do futuro das nossas crianças, sem a nossa presença para as ajudar ou guiar. Os anseios de Judy por uma vida normal e o esforço dos seus pais em preservar a sua segurança começam a desvanecer à medida que o seu contacto com criaturas desconhecidas aumenta, reconhecendo que os seus métodos de sobrevivência na infância são agora inúteis. É um conceito envolvente acerca de aceitar que o próximo passo dos nossos filhos é essencialmente a sós; abraçar a sua independência. Admitidamente, Chaves é excelente nestas sequências familiares, com a sua realização a sobressair no amor partilhado pelos Warren e no caos apaixonado dos Smurl – conversas por cima de conversas; brincadeiras dos pequenos cruzadas com as rotinas dos grandes –, estabelecendo uma dinâmica naturalmente terna entre as personagens. Rapidamente gostamos deste elenco e “rezamos” pelo seu happy ending.
Contudo, Chaves aposta a mesa inteira nos repetitivos sustos vazios, eventualmente atingindo um terceiro acto flácido, despido de truques originais e inventivos ou de interesse geral. Quem diria que a conclusão desta saga seria contra um IKEA espiritual? As únicas cenas verdadeiramente arrepiantes – o visionamento de uma cassete, e uma mulher rodeada por espelhos – são arruinadas com patéticos jumpscares que matam todo o suspense e o terror atmosférico. O argumento nem sequer tenta usufruir do satanic panic desta década, priorizando invés referências aos Ghostbusters (1984). É enfurecedor porque é uma longa-metragem excessivamente longa e esta recorrência de loud noises e mobília destruída acaba por ser ineficaz e demonstrar o peso da sua duração, como também a sua imaginação tépida.
The Last Rites é uma experiência desapontante, com sobressaltos banais inteiramente dependentes de uma banda sonora estridente e desinspirada (saudades de Joseph Bishara, compositor dos capítulos anteriores) e de um design de som cliché, atrelado a uma biblioteca de efeitos defuntos. Novamente, obrigado Patrick Wilson e Vera Farmiga. O seu talento evidente quando um jogo de ping pong é mais cativante do que uma porta a ranger. Obrigado aos actores que interpretam a família Smurl, cuja química mantém a nossa atenção. E, para não ser injusto, obrigado Michael Chaves pela sua eficiente direção de performances. O excelente elenco comprova que o acting consegue realmente resgatar uma história da morte. Ainda assim, The Conjuring: Last Rites é um fantasma dos filmes anteriores. Sentimos somente um espectro do seu sucesso.