Elio (2025)

“Unique can sometimes feel like alone. But you are not alone.”

Elio, de Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molina, aborda a história de Elio (V.O. Yonas Kibreab), um rapaz órfão que vive com a sua tia. Ao sentir-se um fardo para a tia, que tem possibilidades de se tornar astronauta mas não o faz por ter de cuidar do sobrinho, Elio desiste da vida na terra e assume como missão ser raptado por extraterrestres. Enquanto nos clássicos de ficção científica as personagens são raptadas por extraterrestres contra a sua vontade, aqui surge exatamente o contrário. Elio vive apaixonadamente a possibilidade de uma vida no espaço, das diferentes espécies que possa encontrar, e na solidão que por sua vez vai deixar de existir na sua vida.

A Pixar destaca-se pela forma como consegue transformar premissas e temas complexos em histórias emocionalmente tocantes e perceptíveis a miúdos e graúdos. Elio não foge à regra. Este filme pretende ser uma mensagem de paz em tempos de guerra, de mostrar que não é a diferença que nos separa e que a vulnerabilidade pode ser uma grande qualidade.

A animação é, como sempre, excelente. O filme está recheado de visuais coloridos, a Pixar neste aspecto não tem como falhar. A palete de cores muda consideravelmente quando estamos no ponto de vista da Terra e do espaço. Temos a capacidade de ver através dos olhos de Elio que observa a vida na Terra como monótona, e por isso veste-se de luzes de natal coloridas e de uma capa chamativa para captar a atenção dos extraterrestres, de manifestar uma certa energia para que estes aliens o vejam e levem-no consigo. Lá fora, no espaço, o mundo preenche-se de cores fortes e quentes, para caracterizar também essa recepção calorosa e boa energia que é vivida no planeta para onde Elio é transportado.

Os temas que se destacam ao longo deste filme são vários, dentro deles o luto, a solidão, a parentalidade, a aceitação da diferença, a capacidade de empatia e a vulnerabilidade. Na realidade poderia até dizer-se que o núcleo do filme é a parentalidade e as dificuldades que advêm em equilibrar a vulnerabilidade com assertividade na educação de uma criança. Quando vemos um filho a seguir o percurso oposto do pretendido ou quando é claro que demonstram dificuldades sociais e refugiam-se noutros hobbies, será o melhor desviá-lo desse mesmo caminho e obrigá-lo a criar uma forte carapaça para que se possa defender dos bullies ou será melhor ensiná-lo em como abraçar essa forma de ser, essa vulnerabilidade?

Neste sentido, faz lembrar Strange World (2022) de Don Hall, do estúdio da Disney. Aqui esse sentido de parentalidade faz-se manifestar através dos atritos entre os mais velhos de cada geração (avô, pai e filho) e o facto de estarem num sítio completamente estranho e diferente, algo que os leva a ter que reunir forças e abraçarem as qualidades e falhas de cada um. Infelizmente, ao contrário deste filme subvalorizado, Elio perde-se um pouco com a grande quantidade de personagens e pontos de narrativa que vão surgindo, que mesmo relacionados com os temas destacados acima, são tão reduzidos que não conseguem criar um maior impacto.

Contudo, apesar de ter a capacidade de ser ainda mais ambicioso, principalmente se se tivesse focado especificamente num destes ramos que são explorados ao longo da narrativa, Elio demonstra-se um filme importante e bonito para os tempos conturbados de hoje, repleto de ação e empatia, e relembra-nos que mesmo em tempos mais escuros, mesmo com a barreira da fala, há sempre uma forma de nos encontrarmos e criarmos um consenso para a criação de paz. Seja ela entre pai e filho, seja ela entre galáxia e criança, seja entre relações interespécies, não há limites.

No final, lágrimas são vertidas, animação bonita é experienciada e espera-se que daqui para a frente a Pixar também continue focada no seu núcleo: a importância da empatia, e que continue a contagiar aqueles que se sentem mais sozinhos e ou desencontrados.

3/5

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