Bruno Sant'Anna

Há filmes que não se preocupam em oferecer respostas fáceis ao espectador e que preferem trabalhar na sugestão, no silêncio e na atmosfera. Possum, do britânico Matthew Holness, é um desses casos: uma obra estranha, sufocante e profundamente inquietante, que se apoia mais na sensação de desconforto do que em explicações narrativas.

Na história, acompanhamos Philip (Sean Harris), um homem melancólico que regressa à sua antiga casa de infância e convive com um parente mais velho, Maurice (Alun Armstrong). Sempre com uma mala enigmática debaixo do braço, Philip vagueia por uma cidade cinzenta e quase deserta, tentando livrar-se de algo que o persegue constantemente. Desde os primeiros minutos, o filme mergulha o público num ambiente sombrio, de diálogos escassos, espaços degradados e uma presença ameaçadora que raramente se mostra por completo.

Holness, na sua estreia em longas-metragens, demonstra talento ao construir tensão com poucos recursos. A fotografia granulada, que remete a produções dos anos 80 e 90, reforça a sensação de abandono e decadência, enquanto a banda sonora – ora discreta, ora estridente – funciona como reflexo do estado mental do protagonista.

Grande parte da força de Possum reside no desempenho de Sean Harris. O actor encarna um homem à beira do colapso, cujos gestos e expressões condensam uma vida inteira de trauma e silêncio. Do outro lado, Alun Armstrong oferece uma presença perturbadora que aumenta a tensão sempre que surge em cena.

Mais do que um filme de terror convencional, Possum usa o género como metáfora. A criatura evocada pelo título não é apenas um monstro, mas a representação física dos traumas que Philip carrega consigo, literalmente, dentro da mala que nunca larga. Cada tentativa de se libertar desse peso falha, reforçando a ideia de que há fardos impossíveis de abandonar.

O ritmo lento e a repetição de situações podem afastar parte do público, sobretudo quem espera explicações rápidas ou sustos fáceis. No entanto, é nesse tempo dilatado que o filme constrói o seu verdadeiro impacto: a experiência de conviver com o desconforto, sem garantias de resolução.

Possum é um exercício de terror psicológico austero e desafiante. Não é um filme para todos, mas para quem se deixa envolver pela sua estranheza, é uma experiência inquietante e memorável.

4/5