Crítica | Black Phone 2 (2025)

Surpreendentemente, Black Phone 2 não é uma spam call.

Apesar do sucesso inesperado do primeiro filme, financeiramente e crítico, do seu conceito original (baseado no romance homónimo de Joe Hill) e da promessa de Ethan Hawke como um futuro ícone do cinema de horror, interpretando um serial killer com uma máscara arrepiante, similar aos rostos dos gigantes no anime Attack on Titan (2013-2023), esta criação de Scott Derickson foi uma enorme decepção pessoal. Possivelmente porque sou um millennial portanto recuso atender telefonemas, mas considerei The Black Phone (2021) medíocre na sua execução de uma ideia intrigante, desesperadamente a tentar subverter clichés em favor de uma história emocionalmente desconectada. A performance de Hawke foi o único aspecto notável desta experiência. Contudo, como todos sabem, basta ligar uma segunda vez para finalmente atenderem. Bebam um shot sempre que eu fizer uma referência a telefonemas nesta crítica. Boa sorte!

Anos depois de ser raptado pelo The Grabber (Ethan Hawke), Finn (Mason Thames) procura seguir em frente. O assassino em série está morto mas o trauma persiste, impedindo o jovem de conseguir enfrentar a sua dor, assombrado diariamente por esta figura. O sofrimento provocado por este evento é alastrado para a sua família, sendo que Gwen (Madelaine McGraw), a sua irmã, começa a ser atormentada por intensos pesadelos que ameaçam a sua vida, enquanto recebe estranhas chamadas sobre um acampamento de Inverno, Alpine Lake. Acompanhada pelo seu interesse romântico, Ernesto (Miguel Mora), e pelo seu irmão Finn, os adolescentes seguem em viagem para este local, com intenções de desvendar este mistério e compreender a sua conexão com os seus sonhos.

Uma sequela de terror melhor que o primeiro filme? Não desliguem (mais um shot) mas aproveito para recordar que esta crítica é da perspectiva de uma pessoa que não gostou do capítulo anterior. Scott Derickson abandona (na maioria) os jumpscares genéricos do antecessor e investe na construção de atmosfera, liderada pelo inquietante sossego. Os “fantasmas” rodeiam estes indivíduos com uma tenebrosa calma, seguros do impacto do seu rosto nas suas vítimas, sem precisarem da assistência de um grito ou de um boost da banda sonora. Black Phone 2 não é exactamente assustador, mas o seu terror é vastamente mais cativante em comparação com os típicos blockbusters de horror actuais. Particularmente nos pesadelos de Gwen, onde o realizador implementa os truques utilizados na sua longa-metragem Sinister (2012) – com filmagens produzidas em Super 8, que criam uma textura dreamlike e arrepiante.

Além dos sustos, o argumento, co-escrito com C. Robert Cargill, opta inteligentemente por expandir a narrativa e o universo estabelecido, invés de meramente repetir os acontecimentos da obra original, como em numerosas sequelas. Independentemente das profusas coincidências que bloqueiam a sua rede e interferem no seu drama, dos poderes do The Grabber serem como um Freddy Krueger de microondas, ou da previsibilidade do seu mistério principal, a sua tentativa de aprofundar este mundo e o seu amor por esta família e as suas vidas acaba por vencer. Black Phone 2 é envolvente o suficiente para querermos continuar a acompanhar as suas jornadas.

No entanto, as falhas do filme anterior sangram nesta sequela, como o acting meramente decente dos seus protagonistas, incapazes de atribuir credibilidade às suas respectivas figuras. As prestações de Thames e McGraw são aceitáveis, mas a dupla nunca consegue convencer completamente da sua realidade emocional ou sequer convencer a audiência de que são irmãos, pois a química é praticamente inexistente e ligeiramente constrangedora. Um aspecto enaltecido quando partilham o espaço com o talento de Ethan Hawke ou de Demían Bichir – o actual dono do acampamento. É um problema comum nos jovens actores da nova Hollywood. Ninguém encarna verdadeiramente as suas personagens, representam exclusivamente para a câmara, para o seu enquadramento, com medo de sair da sua marca ou de arruinar um take. O acting está apenas no rosto. O corpo permanece estático, morto. Não culpo inteiramente o elenco, é um elemento negativo que os realizadores têm de corrigir nas suas produções. Permitir que os actores sintam liberdade física para viver efectivamente estas pessoas e experienciarem as suas emoções. Nunca atinge o ponto de arruinar a longa-metragem, todavia, nunca consegue afectar o nosso coração. É uma aliciante voz distante que ouvimos, sem acreditar nas suas palavras.

As suas temáticas religiosas são abatidas por similares motivos. Demasiado básicas para impactar sentimentalmente. Apenas provocam excessivas dúvidas sobre o Deus que esta adolescente venera, entrando em conflito com as suas ideias de Céu e Inferno, Liberdade e Dor. É uma lógica questionável que prejudica a forma como o universo dos sonhos/realidade funciona, dominando a sua conclusão até ser resgatada por um clímax ridículo que apazigua (ou distrai) esta confusão através de momentos absolutamente silly, com jovens a voar pelo acampamento e com o Grabber a revelar uma possível segunda carreira na patinagem artística. Se não fosse assassino de crianças, podia ter sido uma Tonya Harding – com mais joelhos partidos. Felizmente, o ambiente cartoonish nunca é excessivo, divertindo sem matar o nosso interesse pela história. Aguardo pelo Grabber on Ice.

Admito que numa segunda visualização, o seu surpreendente valor de entretenimento pode ser simplesmente substituído por aborrecimento. Reconheço que a sua superioridade ao primeiro filme reside principalmente na narrativa e no seu terror atmosférico, sem muito mais para oferecer, e que a minha reação positiva a esta sequela está relacionada com o meu desinteresse nesta franchise. Ainda assim, que mais posso dizer? É verdade que podia ter sido uma mensagem, mas não me arrependo de ter atendido.

Shot.

3/5

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