Guilherme Teixeira

Baseado nas experiências do ex-SEAL Ray Mendonza, que em parceria com Alex Garland realizou e escreveu o argumento, Warfare conta a história da batalha de Ramadi, no Iraque, quando um pelotão de soldados americanos ficam encurralados numa casa situada numa vila ocupada por membros da Al Qaeda, durante uma missão de vigilância que passou num abrir e piscar de olhos a um teste de sobrevivência.

O que não faltam são filmes de guerra à procura do realismo, mas Warfare difere de todos os outros pela presença de um veterano na realização e no argumento. É uma decisão corajosa que se reflete a longo prazo. O que quero dizer com corajosa? Bem, a quantidade de tempo morto onde acompanhamos membros do pelotão a fazerem piadas estúpidas e os diálogos minimalistas apresentados como se estivéssemos de facto a passar tempo com eles, podia levar o público a perder o interesse na história. Mas em vez disso, faz com que se crie um ambiente mais familiar relativamente às personagens do filme, e também constrói aos poucos uma sensação de paranoia. Chega a um ponto em que, após imenso tempo de espera, só uma pessoa a andar na rua e a olhar na direção da casa onde os soldados estão estacionados, oferece um sentimento de mau presságio dando a entender que o que tiver que acontecer, acontecerá, sendo apenas uma questão de tempo.

A aleatoriedade das mortes também encaixa nesse trágico realismo, tornando tudo muito mais impactante. Funciona porque o protagonista da história é o pelotão e não uma pessoa individual em específico, o que torna o choque ainda maior para quem está habituado ao típico filme de guerra com uma narrativa tradicional. Warfare toma proveito desta decisão ao colocar o seu elenco de grandes jovens actores, com algum reconhecimento, num ambiente de forte caos, o que faz com que o aumento da ansiedade e da adrenalina subam exponencialmente.

O realismo não está apenas nos visuais mas também no design de som exímio. As explosões chegam como um autêntico murro na barriga, o constante som das balas a voarem, os gritos, destroços e o ambiente em geral criam uma autêntica atmosfera esmagadora e de pura claustrofobia, quase como se levantar a cabeça fosse um erro capital.

Há muita gente a classificar este filme como uma perfeita tradução da expressão “war is hell” e não podia estar mais de acordo. A intensidade é incrível, a claustrofobia é real e a impotência é a palavra de ordem. O inimigo parece estar em todo o lado, ataques chegam do nada, mortos e feridos caem que nem raios e as constantes luzes ao fundo do túnel soam mais a um novo comboio do que propriamente a esperança. Para um filme com apenas noventa minutos de duração, é uma experiência que parece nunca mais acabar. E sim, trata-se de um elogio.

4/5

Terrifier 3 (2024)

Esta terceira longa-metragem acompanha a tendência ditada pelo seu predecessor, relativamente ao mais e maior. Vemos cenas ainda mais horripilantes tanto em termos de violência como também na delicadeza daqueles envolvidos.

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