Where the Crawdads Sing de Olivia Newman é baseado no livro homónimo, escrito pela controversa Delia Owens que, retirando uma página do seu próprio livro, esteve no passado envolvida numa investigação de um assassinato.
Kya, a protagonista desta narrativa, interpretada por Daisy Edgar-Jones, da minissérie de sucesso Normal People (2020), é conhecida na terra em que vive como “the marsh girl” ou “a rapariga do pântano” por viver isolada na parte selvagem de uma povoação da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um jogador de futebol americano acarinhado na zona, é encontrado morto no pantanal, a população acusa de imediato Kya.
Ao conhecer o seu advogado, que pede a Kya que lhe conte a sua história, a narrativa do filme transforma-se num longo flashback desde a infância da protagonista até ao momento da morte de Chase. O elemento policial, que talvez traria ao filme contornos mais viscerais e interessantes, é rapidamente substituído por um drama trágico e romântico ao estilo de Nicholas Sparks.
Não é de todo como se a história de vida de Kya fosse aborrecida – tendo aliás muito para oferecer e descobrir – mas sim a forma como esta é enquadrada. Where the Crawdads Sing seduz o espectador com um início sombrio, ancorado no mistério policial e nas peculiares circunstâncias de vida enquanto reclusa de Kya, apenas para aos poucos se revelar mais uma história de amores cruzados, em que a personagem feminina se limita a si mesma para satisfazer os desejos dos homens que povoam a sua vida.
As ambições e particularidades de Kya apresentadas no primeiro ato, são depois achatadas por um triângulo amoroso enfadonho e sem grande paixão. O filme teria beneficiado de um maior foco no paralelismo entre a natureza e a vida em sociedade, em vez de o usar apenas como pano de fundo para a sua narrativa romântica. A paixão de Kya pelo pântano em que vive é em tudo muito mais fascinante do que o seu amor por um ou outro rapaz, e Daisy Edgar-Jones brilha quando se encontra sozinha entre a água, os pássaros e a verdejante vegetação do rio Carolina.
É de destacar, também, a relação de Kya com o casal de lojistas que a acolhe em criança e a defende até ao final – Jumpin’ (Sterling Macer Jr.) e Mabel (Michael Hyatt). O seu laço é o tipo de sentimentalismo que funciona pela sua completa ausência de segundas intenções, criando alguns dos momentos mais comoventes do filme.
No final de contas, Where the Crawdads Sing apresenta-se mais como uma fantasia de vingança e amor superficial de uma rapariga que foi injustiçada toda a sua vida, do que propriamente uma visão crítica e aprofundada sobre as circunstâncias da história. A revelação final funciona até certo ponto, trazendo alguma pujança ao ritmo mortiço do filme, mas infelizmente já vem tarde demais.