We Have a Ghost (2023)

de Antony Sousa

Um jovem deslocado do seu seio familiar, encontra num animal ou num ser sobrenatural ou extraterrestre a compreensão de que procurava, enquanto esse ser é procurado pela ganância humana, provocando situações insólitas e potencialmente perigosas ainda que divertidas no contexto de um filme. Eu sei, esta ideia não saiu agora fresquinha de um laboratório de premissas originais, mas é a nossa premissa para We Have a Ghost, por isso vamos aceitar e tentar perceber que toque pessoal é dado neste filme para se distinguir dos outros que têm um ponto de partida semelhante.

Logo na primeira cena somos introduzidos para o mood geral do filme, com uma sequência quase ao estilo cartoon para nos fazer entender que existe um fantasma numa casa antiga, e que ninguém fica por lá muito tempo a partir do momento em que o descobrem. Essa simplicidade é transversal a toda a história, não havendo uma preocupação significativa para explicar cientificamente o fenómeno da existência de uma entidade espírita, o foco aponta directamente para o mais importante, o que é que se passará com o nosso fantasma, Ernest (David Harbour), e o que poderão Kevin (Jahi Di’Allo Winston) e a sua amiga, Joy Yoshino (Isabella Russo), fazer para o ajudar. Apesar de ter este elemento sobrenatural o filme foi nitidamente feito para ser visto em família, para divertir, rir um bocado, e nunca para assustar ou misturar o terror com outros géneros.

Jahi Di’Allo Winston partilha o coração desta história com David Harbour, e juntos formam uma dupla que cria empatia e nos faz torcer por eles na sua aventura perante os perigos caseiros e policiais, para saberem um pouco mais sobre as razões por que Ernest não fala e está preso à casa que conhecemos na primeira cena. O jovem Jahi provavelmente tem aqui o primeiro de muitos papéis como protagonista, tal é a qualidade inegável que demonstra em We Have a Ghost. É expressivo, intenso, e defendeu do início ao fim a sua personagem reservada, o seu conflito interno, e o seu intelecto e sentido de justiça aguçados até ao fim. Há algo nele que me faz crer estarmos perante uma nova estrela. Claro que interpretar é um trabalho colectivo, e certamente saiu muito valorizado por ter trabalhado com Anthony Mackie, como seu pai, David Harbour, com quem tem o maior número de cenas, e a rookie Isabella Russo, que conquista os nossos sorrisos através da sua naturalidade, numa estreia cinematográfica que também promete.

Tal como disse no início, este género específico não é novo, e o seu sucesso por norma depende bastante do impacto que a personagem alienígena ou sobrenatural tem em nós, e na quantidade de fofura, ou ingenuidade até, que transmite para nos derreter e colocar o “in” no “esquecível”, bitola que desde E.T. the Extra-Terrestrial (1982) ficou demasiado alta. We Have a Ghost não chega a esse ponto, é certo, mas David Harbour foi a escolha perfeita para tentar tal feito. Há uma bondade no seu sorriso, uma entrega total naquilo que faz que chega facilmente até nós. Numa performance sem falas e com muito tempo de câmera, só um actor experiente capaz de usar todas as ferramentas físicas, e sem medo da sua posição vulnerável poderia aceitar e superar este desafio.

Está garantido um serão agradável e levezinho, com casting bem feito, e uma sensação agradável no final. Há espaço para filmes assim, não obrigam a pensar, nem a puxar fortemente pela emoção, nem a esfregar os olhos para não sermos atropelados com imparáveis estímulos visuais. É simples e eficaz. Nada mais que isso, mas nada menos também.

3/5
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