Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl (2024)

de Diogo Carriço

O estúdio Aardman volta às suas raízes com uma continuação da história de Wallace e Gromit, um inventor e o seu cão que veem a sua vida pacata frequentemente interrompida por personagens caricatas e os seus planos malignos. Estas duas personagens e as suas histórias são das que marcaram mais a reputação deste estúdio britânico que produziu filmes clássicos como Chicken Run (A Fuga das Galinhas, 2000), Flushed Away (Por Água Abaixo, 2006) e Shaun the Sheep Movie (A Ovelha Choné – O Filme, 2015).

Em Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl (Wallace & Gromit: A Vingança das Aves) vemos Wallace (V.O. Ben Whitehead) a aprimorar as suas capacidades de inventor ao criar um robô para ajudar Gromit no seu jardim, mas este acaba por separar os dois companheiros. O filme, ao ser o mais recente da produtora e da história de Wallace e Gromit, traz de volta a personagem de Feathers McGraw (Penas McGraw) que é tão amado pelo público e que segue a dupla desde 1993, originado na curta The Wrong Trousers (Wallace & Gromit: As Calças Erradas). Aqui, o infame pinguim planeia a sua vingança contra a dupla que o entregou às mãos da justiça há muitos anos atrás.

Como sempre, Wallace & Gromit apresenta-nos um enredo bastante básico, não deixando de ser inteligente e inspirado, fazendo brilhar a estética e técnica de stop-motion e a dinâmica entre as duas personagens que dão vida ao filme. Ao longo do filme, vemos o desenvolver do tema da tecnologia contra o tradicional. Enquanto Wallace parece estar cada vez mais dependente das suas invenções, Gromit continua livre da tecnologia e apenas assiste Wallace no seu vício, por saber que o deixa contente. Isto acaba por ser o que distancia os dois ao longo do filme, quando Wallace tenta forçar a utilização tecnologia na vida do Gromit com a sua invenção: O Norbot (V.O. Reece Shearsmith). Depois, como sempre, temos a habitual ferramenta narrativa de Gromit perceber de imediato que algo de errado se está a passar, enquanto Wallace, também pela sua personalidade mais ingénua, só percebe que algo está a acontecer quando se vê em perigo. Isto acaba por não ser uma desvantagem do filme, porque quem vai ver um filme do Wallace e Gromit com a expectativa de experienciar uma grande viagem cinematográfica vai enganado. O charme destes filmes está na sua curta duração e na sua leveza.

O pouco de complexidade narrativa que há é acompanhado pela esperteza da mesma. Nos seus setenta e nove minutos de duração nunca há um momento morto. Isto não quer dizer que o filme não tem momentos mais calmos, mas que cada cena tem algo que alimenta a narrativa e a evolução das personagens. Isto muitas vezes deve-se à habilidade do guionista Mark Burton e dos realizadores Merlin Crossingham e Nick Park de utilizar características de diversos géneros cinematográficos para elevar cada momento. Por vezes há momentos cómicos seguidos de momentos de ação com um tom de suspense, que apesar de ser habitual em diversos filmes, aqui serve para levar cada momento ao extremo, para que cada cena pareça épica neste filme tão pequeno. A maneira como o Feathers McGraw é retratado como se fosse um vilão típico de um filme do James Bond e o cómico de personagem e situação em todas as cenas em que Wallace está envolvido, acabam por combinar no todo do filme por mérito e talento de todos os envolvidos, e também pelo charme da aparência clássica do stop-motion.

Da mesma maneira que existe este conflito entre o moderno e o tradicional, há também uma mistura de técnicas modernas e tradicionais na concretização do filme. A arte do stop-motion foi mudando ao longo dos anos, desde que a primeira curta-metragem de Wallace e Gromit foi feita. Agora, os animadores trabalham com materiais diferentes e com técnicas e ferramentas que facilitam o que era outrora um trabalho mais árduo. Contudo, ainda é uma arte que requer bastante tempo e dedicação, o que nos mostra que cada coisa no filme foi feita e pensada com bastante empenho e carinho. Quando digo que o tipo de animação é um mérito do filme, é isto que refiro, ao carinho que implica fazer um filme em stop-motion, especialmente um que acarreta com a imagem de uma produtora e que é amado por tantos fãs.

Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl, tal como todos os filmes relativos à dupla, são perfeitos para relaxar ou desanuviar depois de um dia complicado, acompanhados de queijo, tostas e uma chávena de chá. O filme é perfeito por ser simples, com muitas ambições relativas ao seu pequeno universo, e por não tentar ser mais do que ele próprio. Toda a equipa traz algo ao projeto, como cada dedada na plasticina dos bonecos, que alimenta a nostalgia de quem vê estes filmes desde que se lembra, e abre os olhos aos espectadores que vêm o cinema como um espetáculo. Cinema pode, sim, ser um meio de atrações, não há nada de mal nisso, mas também pode resultar em filmes simples e pequenos que pesam tanto mais. 

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