Vivarium (2019)

de Sara Ló

Vivarium é a palavra em latim para viveiro. Um viveiro é um recinto ou um recipiente convenientemente preparado e condicionado para nele observar, conservar e reproduzir animais vivos ou plantas. Essencialmente, é uma recriação dos seus habitats naturais.

Esta crítica podia facilmente acabar aqui. O título do filme e o seu significado são tão “in your face” que pior que isso, só se o filme seguisse o mesmo caminho (e não é que seguiu mesmo?)

Tom (Jesse Eisenberg) e Gemma (Imogen Poots), um casal jovem à procura do seu primeiro ninho a dois, são encaminhados por um estranho agente imobiliário (Jonathan Aris) a um bairro chamado Yonder, nos subúrbios.

Rapidamente apercebem-se que estão sozinhos e presos num labirinto infinito de casas, idênticas em todos os sentidos (todas com o mesmo tamanho e formato, o mesmo tom de verde e o mesmo pequeno jardim). As coisas ficam ainda mais estranhas quando recebem uma caixa com um bebé lá dentro.

All we wanted was a home

A mentalidade do século XXI quase nos obriga a seguir um conjunto de regras para vivermos a nossa vida cegamente: nascer, estudar para ter um bom trabalho, ter um trabalho, arranjar um parceiro, comprar uma casa, ter filhos, morrer.

Em Vivarium, aaspiração de adquirir a mítica casa de sonho, rapidamente se transforma num pesadelo. A promessa de uma vida ideal é apenas um isco para todos cairmos numa armadilha sem fim.

A crítica ao consumismo, aos casamentos sufocantes, à parentalidade e à ansiedade que advém de tudo isso está presente. Amplifica aqueles medos tão comuns como estar estagnado na vida, de nunca conseguir atingir o verdadeiro potencial, de ter uma vida desperdiçada e sem sal, sabem?

O problema é como as metáforas são aplicadas no filme. O conceito é claramente interessante e perturbador, mas a um nível superficial. Aquilo que mais me incomodou foi o facto de estes assuntos não serem abordados de uma forma subtil. Parecia que me estavam a esfregar na cara explicações para o que estava a acontecer: “Estás a ver, estás a ver, as casas são todas iguais, as pessoas agora têm tudo igual e acham que podem comprar uma vida perfeita, mas é tudo mentira”. Sim, sim, já percebemos.

Contudo, o set design e as performances são de louvar. Já em The Art of Self-Defense (2019) – que recomendo – Imogen Poots e Jesse Einsenberg tinham mostrado uma boa química, que em Vivarium aprimorou-se. É pena que o desenvolvimento das suas personagens seja fraco e que os diálogos sejam muitas vezes banais.

Confesso que sinto um certo desapontamento por Vivarium ser demasiado óbvio e ter uma história pouco profunda. Vê-se que foi um trabalho feito com muito esforço, mas infelizmente, não foi o suficiente.

2.5/5
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