Venom: Let There Be Carnage (2021)

de Antony Sousa

Andy Serkis foi o realizador escolhido para dar sequência a Venom (2018), e o resultado no box office pode até vir a indicar que ocorreu um match perfeito (o primeiro Venom rendeu qualquer coisa como mil milhões de dólares em todo o mundo), mas analisando os prós e contras deste Let There Be Carnage diria que não só está longe de ser perfeito como pouco ou nada acrescenta em relação ao primeiro, que já por si não explorou o seu potencial, ao contrário do que prometia.

Eddie Brock (Tom Hardy) atravessa um mau momento na sua carreira de jornalista e revela dificuldades em ajustar-se à sua nova vida em parceria com o seu symbiote Venom. No entanto, através de uma ligação inesperada a Cletus Kasady (Woody Harrelson), um serial killer no corredor da morte, encontra uma solução para revitalizar o seu estatuto. O que não estava nos planos era que esse assassino escapasse da prisão e se tornasse numa ameaça letal para a humanidade.

Tom Hardy é um actor extraordinário, não é propriamente polémico afirmá-lo. Ver a estrela britânica divertir-se nas cenas que protagoniza com Venom, a quem também dá voz, criando uma dinâmica cómica com o alien de amor/ódio, é agradável de assistir. Não são raras as vezes em que nos sai uma gargalhada espontânea devido a uma discussão entre os dois que acaba invariavelmente em caos e comédia física. Isto como uma série de sketches funcionava que era uma maravilha!

O único problema é que se trata de um filme do universo Marvel que pretende ter um enredo com início, meio e fim, e fazer crescer em nós um conjunto de sentimentos que fomos habituados a associar a filmes de registo super heróis versus super vilões nos últimos anos. E para além de umas boas risadas aqui e ali, tudo o resto é efémero e contém tão pouco peso que nem sentimos a brisa da história no cabelo.

O tempo de duração do filme é, aliás, outro dos aspectos positivos a referir: pouco mais de 90 minutos é honesto para uma longa-metragem que não tem muito para contar. Tem esse mérito de não se arrastar no tempo, quando damos conta já estamos no último acto, com todos os preparativos para o duelo final concluídos.

Há ainda assim vários elementos em sub-rendimento a enumerar. Woody Harrelson, mais um excelente actor, tem a sua melhor versão de Cletus Kasady enquanto ele é apenas Cletus, o serial killer enclausurado. É perturbador, e intenso o suficiente para deixar uma marca, só que isso dura apenas alguns minutos, porque a partir do momento em que se liberta da prisão torna-se gradualmente numa caricatura de psicopata que mesmo para este universo específico de aliens e afins já sai a perder perante outros exemplos de antagonistas. Desperdício de recursos, a personagem passa rapidamente para o “bocejo”, ainda que com uma tentativa que soou a desesperada de o tentar humanizar através da paixão por Frances Barrison (Naomi Harris) e suposta genuinidade na busca por uma amizade com Eddie (?). Anne (Michelle Williams), ainda assim, tem direito a mais acção nesta sequela, e até o seu namorado Dan (Reid Scott) encontra o seu momento para brilhar, ou pelo menos aparecer sem ser a fazer de emplastro.

Visualmente é o normal, não destoa do que já vimos diversas vezes, parecendo procurar pontualmente uma vibe de terror que não pegou, até pelo constante humor presente que desfoca qualquer tensão possível. Estranhamente explora pouco a banda sonora para estimular o ritmo alto que impõe, portanto até nesse ponto fica atrás de filmes The Last Guard (2020) e Cruella (2021), que recentemente associaram bastante bem a música com as suas cenas mais fortes.

Venom: Let There Be Carnage podia ser muito mais, a personagem de Venom tem muito por onde crescer, e Cletus Kasady poderia ter sido um excelente antagonista, porém sobra-nos um filme de domingo à tarde em casa para nos rirmos um bocadinho e desapegar da história logo de seguida. Talvez ganhe no futuro (porque há futuro para Venom certamente) se equilibrar mais a balança entre a comédia eficaz de Hardy e o seu parceiro de corpo, e o investimento no lado sentimental, como o elemento Daniela Melchior em The Suicide Squad (2021), onde existe muito nonsense e até gozo por nos tirar o tapete, mas no fim de contas há um lado humano fundamentalmente com ligação via Ratcatcher 2 que nos faz torcer por aquelas personagens, ao contrário do que acontece aqui. Ou então um assumir a 100% e fazer all in na rebeldia como Deadpool (2016), e navegar na insanidade cool, sendo uma boa ajuda para isso passar a ser R-Rated, tal como aconteceu com The Suicide Squad precisamente.

Como última nota, digo apenas que não se apressem a sair da sala de cinema quando passarem os créditos, vai compensar esse pequeno tempo de espera…

2.5/5
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