Vampire Humaniste Cherche Suicidaire Consentant (2024)

de Antony Sousa

Um vampiro também tem sentimentos, já todos devíamos ter aprendido isso com a saga Twilight (2008-2012), no entanto este coming-of-age canadiense realizado e co-escrito por Ariane Louis-Seize reforça essa teoria de uma forma original, divertida e até comovente.

Sasha (Sara Montpetit) é uma jovem vampira incapaz de atacar quem quer que seja para obter o sangue de que precisa para sobreviver e para obter a aprovação da sua família, até que conhece Paul (Félix-Antoine Bénard), um jovem humano que contempla o suicídio, e o seu mundo vira do avesso inesperadamente. A necessidade de Sasha em encontrar a sua sede para caçar e a vontade de Paul em se suicidar resulta na ocasião perfeita para os dois testarem verdadeiramente se sabem o que querem ou não.

Existem muitas formas de expressar emoções, contar uma história é uma delas. Contar uma história através do cinema é outra, mas dentro dessas possibilidades existem ainda umas quantas que dependem da autenticidade do que nos é contado. Vampire Humaniste Cherche Suicidaire Consentant (Vampira Humanista Procura Voluntário Suicida) explora a solidão e a sensação de que ninguém nos compreende e o que a adolescência pode representar, seja na escola, ou mesmo dentro de casa. A forma genuína como o faz, utilizando a vulnerabilidade de uma espécie não-humana por norma mais confiante do que nós, torna a história igual a outras no seu objectivo, porém especial no meio para lá chegar.

As duas personagens centrais, Sasha e Paul, são ilhas inacessíveis, tanto para colegas como para a família. Quando ambos naufragam no espaço um do outro descobrem partes de quem são que estavam bloqueadas. Esse autoconhecimento involuntário com assistência ainda mais involuntária, constrói um barco com o qual temos oportunidade de visitar cada uma das ilhas destes jovens, levando-nos até ao último terço do filme totalmente comprometidos com o que estará para vir. E o que está para vir é coerente com tudo o que foi construído até lá.

Sara Montpetit e Félix-Antoine Bénard fazem um trabalho imaculado. Elevando o argumento que têm em mãos de forma meticulosa e no tom certo do filme. A comunicação não verbal de Paul é tão audível quanto monólogos de personagens que não se calam. Sentimos o seu medo, a sua ansiedade, a sua coragem, o seu entusiasmo, o seu arco de personagem desenhado com mestria. Sasha batalha com a sua natureza, tanto a expectável pela sua espécie como com a sua essência única. É uma batalha natural na fase da adolescência, contudo Sara Montpetit adiciona a camada de transmitir esse dilema numa realidade vampírica. Desde o primeiro momento nutrimos empatia por Sasha, e testemunhamos uma colaboração excelente entre Sara e o argumento e direcção da realizadora Ariane Louis-Seize, naquela que é a sua primeira longa-metragem. O restante elenco defende as suas respectivas personagens impecavelmente, numa simbiose com o tom do filme, revelador de um trabalho de equipa bastante coeso.

A começar pelo título, Vampire Humaniste Cherche Suicidaire Consentant é um filme capaz de nos fazer rir, mas também sorrir, emocionar, arregalar os olhos, celebrar e acreditar em vampiros. Aplica um humor que nem sempre se encontra e acrescenta-lhe um coração que devia estar sempre presente. Aplica a receita de um sólido bom filme e acrescenta uma boa opção alternativa para sugerirmos a alguém de quem gostamos.

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