Under the Fig Trees (2022)

de João Iria

Crowdpleasers. Obras designadas para extrair o melhor da espécie humana e distribuir otimismo pela audiência, criando um sorriso melancólico. Estas longas-metragens conquistam salas de cinema através do seu mood contagiante, a sua narrativa simples e as suas personagens realistas. O seu ambiente entrega emoções leves, todavia, duradouras que os espectadores carregam consigo até ao seu lar. Erige Sehiri elabora uma carinhosa narrativa que num mundo justo seria um dos principais sucessos nas bilheteiras mundiais. Completamente meritória dessa glória financeira e da atenção de um público global.

Under the Fig Trees é um pequeno tesouro da Tunísia sobre um grupo de adolescentes que trabalham, durante o verão, num vasto terreno de figueiras para poderem pagar os seus estudos, apoiar as suas famílias ou para construir um futuro monetariamente viável. Acompanhadas por colegas de meia-idade e um por um patrão malicioso, as jovens partilham os seus objetivos, esperanças e paixões num dia solarengo. É um teatro de emoções com um palco firmado na natureza, onde as suas relações florescem com as figueiras.

Uma árvore cujo fruto simbólico intensifica os temas explorados de sabedoria e tristeza na juventude; os contrastes sentimentais entre gerações e o companheirismo que carrega a vida moderna em prosperidade e amadurecimento. O seu abastado argumento, construído principalmente com diálogos de uma naturalidade belíssima que pontifica dúvidas sobre improviso durante as filmagens, combinado com a realização delicada de Erige Sehiri, estabelecem uma atmosfera documental entre as personagens que enaltece a veracidade das suas palavras com uma sensibilidade deslumbrante.

Este elemento é acudido pelo seu elenco de “não-atores”, que exibe um talento impressionante, expandindo a vida dos seus protagonistas além deste único dia de passagem narrativa. Conversas sobre dramas, redes sociais, amores perdidos preenchem as horas destes trabalhadores, sob uma luz ardente com insuficiente promessa financeira, ansiosos pelo prazer do repouso encontrado na hora do almoço. Mais um dia de exploração; de uma ocupação exaustiva desprovida de reconhecimento individual. Existe uma sensação genuína de estarmos presentes nas discussões desta comunidade, rodeados por colegas de trabalho e amigos que abençoam este tempo laborioso. Uma sensação providenciada à audiência pela coreografia harmoniosa na direção de fotografia de Frida Marzouk, que estimula essa ligação emocional com planos serenos, seguindo as personagens, ao seu próprio ritmo.

Brevemente, o repouso do sol dita a conclusão desta tarde de esforço; as fofocas perdem o impacto, o flirt ultrapassa a noite com uma energia única adolescente e tudo o que resta é uma canção de irmandade entre estas jovens. Under the Fig Trees encaixa nesta balada íntima de juventude, como uma cuidadosa narrativa de distinção entre gerações onde a tristeza adulta é intensamente recusada pelas protagonistas. Eis um slice of life sobre liberdade contemporânea, politicamente intrínseca nesta cultura mas com um impacto emocional universal.

Um autêntico crowdpleaser com lágrimas e aplausos garantidos, que mantém a sua alma intacta de início ao fim, distante dos movimentos manipulativos de obras semelhantes. A minha esperança pessoal reside na capacidade das distribuidoras internacionais de conceder confiança no público e que este responda com similar crença, pois Under the Fig Trees merece um mundo justo.

4/5
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