Por vezes temos uma epifania e irrompe das profundezas do nosso cérebro uma ideia que se não apontarmos de imediato num papel ou no telemóvel, corremos o risco de perder um pedaço de ouro em potência. É assim que imagino Christopher Smith, realizador e argumentista, a chegar ao enredo de Triangle. Inspirando-se numa ideia já várias vezes repetida, encontrou uma forma de lhe acrescentar mais camadas até se tornar numa matriosca. As camadas não têm todas o mesmo nível de detalhe, mas a última resulta num acabamento de luxo!
Cinco amigos partem numa viagem de barco à vela numa tarde que se avizinha de relaxamento total, até que uma tempestade súbita os toma de assalto e os deixa desamparados. Um navio surge no momento certo para os resgatar, mas a partir do momento em que colocam os pés no seu interior, nada mais parece ter explicação lógica.
Esta é a premissa de Triangle, mas o ideal é tentar saber o menos possível sobre o filme. Quanto menos se souber ou se tentar adivinhar, melhor será a experiência de o ver. É presumível que alguns de vocês que estejam habituados a ver filmes que contenham twists constantes, cheguem a certas conclusões antes das mesmas serem reveladas na história, na realidade nada há de extraordinário ou raramente visto nos primeiros dois terços de Triangle, porém, o último capítulo junta todas as peças e forma um puzzle que queremos colocar na parede da sala, junto de outras surpresas agradáveis. Tudo indica para o contexto típico de terror, mas nitidamente não é um filme destinado a assustar os mais sensíveis, apesar de ser catalogado como sendo desse género não se enganem, é um thriller psicológico sem características para nos fazer saltar do lugar. Entra com facilidade no nosso pensamento e obriga-nos a criar cenários que confiram sentido ao que está a acontecer, o que nos mantém ligados às personagens até ao ponto de ebulição do argumento, e aí já ninguém nos tira a lâmpada que se acende acima das nossas cabeças.
Por incrível que pareça é um filme sobre arrependimento, uma mãe e um filho, segundas oportunidades, inferno, Deuses e a inevitabilidade das consequências dos nossos actos. Somos um reflexo difícil de encarar quando sentimos remorsos, e por vezes espelhamos a nossa pior versão ao tentarmos melhorar a nossa situação a todo o custo. Há muitos ciclos que se repetem e que só conseguimos encontrar o seu padrão quando já é tarde demais, quando existem danos irreversíveis.
Um belo serão para quem aprecia mindfucks. Não tem um elenco que seja de encher o olho nem é o maior twist de sempre, contudo assimila uma boa reviravolta com uma grande motivação da protagonista. Se gostarem deste Triangle sugiro também Coherence (2012) para porem esses cerebelos a mexer!
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