Transformers: Rise of the Beasts (2023)

de Pedro Ginja

Uma icónica série de animação dos anos ’80 deu origem à reinvenção, nos anos 2000, da actual saga Transformers, do qual este Transformers: Rise of the Beasts é a sétima iteração. Já passaram 5 anos desde a última produção com a chancela Transformers. Foi Bumblebee (2018), um spin-off de uma das suas personagens mais amadas, o escolhido, e trouxe ao universo uma abordagem mais pessoal e emocional. Não reinventou a roda, mas ao menos trouxe novo sangue e um novo sentido para a continuação da saga após os falhanços que foram Transformers: The Last Knight (2017) e Transformers: The Age of Extinction (2014).

Transformers: Rise of the Beastsleva-nos de volta ao passado, aos anos ’90 para ser mais preciso, em que o destino do planeta está ameaçado por uma nova força, Unicron – O Destruidor de Mundos. Uma nova força de robots de nome Maximals unem-se aos Transformers e aos Humanos para combater pela sobrevivência do Planeta Terra.

Já deu para perceber, pela sinopse, a adição de novos termos no franchise para aumentar ainda mais a confusão dos não conhecedores do universo. Do lado dos bons temos os Maximals, robots baseados em animais do planeta Terra, enquanto nos vilões é adicionada uma nova facção – os Predacons. Do lado dos humanos fugimos das habituais manobras militares características da saga e centramo-nos, como em Bumblebee, em personagens a viver no mundo real: Noah (Anthony Ramos) e Elena (Dominique Fishback). É neles que Transformers: Rise of the Beasts se apoia para o lado emocional da história, repetindo a fórmula do anterior Bumblebee e dando uma razão para ambos combaterem lado a lado. 

Tanto Anthony como Dominique trazem carisma e o coração necessário às suas personagens, mas não há milagres quando há outros aspectos mais importantes na história. Este parece ser o sentimento dominante neste filme, os pormenores interessantes e inovadores são sempre pontuais e logo engolidos por necessidades maiores. Por exemplo, em termos de argumento, a decisão mais inteligente seria manter o sentimento de nostalgia que Bumblebee tinha conseguido para os anos ’80. Neste caso a escolha são os anos ’90, a última década em que o analógico viveu em harmonia com o digital. Isso sente-se na tecnologia utilizada, na banda sonora hip-hop clássica da época e na recriação do ambiente dos bairros de Nova Iorque. Mesmo as saudosas torres gémeas, desaparecidas desde 2001, voltam a surgir no grande ecrã do cinema. Mas depois, convenientemente, esquece-se de pensar na recriação do vestuário e dos penteados da década, apenas porque convém à história. O resultado é a perda de autenticidade no processo, ao contrário do sucedido em Bumblebee, onde optou a 100% pela recriação dos anos ’80. 

O mesmo acontece nos Maximals, mostrados em todo o seu esplendor, tanto na sua re-imaginação para imagem real como na qualidade dos efeitos digitais e nas sequências animadas das suas personagens que a sua introdução produz. No lado dos Predacons parece não ter havido o mesmo cuidado pois não surgem como animais mas sim outros veículos genéricos reminescentes dos maus da fita, os Decepticons. O seu general Scourge (Peter Dinklage) surge como o habitual vilão ao serviço de uma força maior de nome Unicron (Colman Domingo), um destruidor de mundos gigantesco e poderoso, ambos sem tempo (ou vontade dos argumentistas) para sair das armadilhas habituais dos vilões de Transformers, mesmo com o talento dos actores que lhes dão voz.

O argumento está em segundo plano e carregado de lugares comuns quando comparado com as sequências de acção e os efeitos visuais, dois dos pontos mais fortes nesta sequela. A adição dos Maximals traz uma variedade maior aos combates e a adição desta vertente animal nos robots inova o campo de batalha e renova a saga cansada e a ansiar por um novo caminho. Continua a haver pouca coragem para dotar estes filmes de uma verdadeira ameaça para os seus heróis que continuam sempre a prevalecer e a manter-se sempre por cima. Sem dúvida que beneficia no campo das sequelas e possíveis novas histórias, mas retira impacto aos diversos aspectos do argumento. Fala-se em trabalho de equipa, sacrifício, doenças terminais, ecologia, viagens interdimensionais, arqueologia e sobrevivência planetária, mas fica tudo pela superficialidade do momento logo esquecido entre as inúmeras sequências de acção.

Muita parra e pouca uva contínua a ser o provérbio português mais adequado à saga Transformers e este Transformers: Rise of the Beasts não vem mudar nada. Para os fãs inveterados da saga, os adeptos de acção e de entretenimento intenso este continua a ser uma aposta segura, mas é um passo atrás no que Bumblebee tinha conseguido alterar, e é pena. Pelo menos não voltou ao nível de Transformers: The Last Knight e isso já é razão suficiente para celebrar.

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