Terror, comédia e viagens no tempo são géneros e subgéneros sobejamente conhecidos, porém todos juntos num só filme é algo menos visto. São esses os principais ingredientes de Totally Killer, um bolo nostálgico cheio de referências a filmes de onde claramente foi beber, e em comédia sustentada nas diferenças sociais entre os dias que correm e os anos 80.
Quando um serial killer volta a deixar a sua marca de sangue na pacata cidade de Vernon, 36 anos depois de ter assassinado a sua primeira vítima, Jamie (Kiernan Shipka) viaja no tempo até 1987, e inicia a sua perigosa tentativa de travar a série de assassinatos antes de eles começarem.
E se Back to the Future (1985), Scream (1996), e Halloween (1978) fizessem uma fusão qual seria o produto final? Provavelmente um bem melhor do que Totally Killer, dado o nível elevado destes clássicos, mas ainda assim é com esta premissa que o filme avança e de certa forma conquista. É facilmente perceptível nas primeiras cenas que este não é um filme para se levar totalmente a sério; o próprio não se leva a sério a si mesmo e é coerente nisso até ao fim. No entanto, não pretende ser um Scary Movie (2000), longe disso, almeja na sua essência explorar um pouco a relação entre pais e filhos quando estes últimos são adolescentes, ou seja, procura passar algo que só encontramos para lá da superfície. Acaba por conseguir, em parte, os seus intentos, ainda assim não é o filme que iremos considerar primeiro numa conversa futura sobre comédias de terror ou filmes que exploram as relações parentais.
Não é subtil a influência de determinados filmes, como os mencionados acima, em Totally Killer. Back to the Future é literalmente usado pela protagonista para explicar o que lhe aconteceu; Halloween podemos encontrar na noite em que tudo começa, na fisicalidade do assassino, e na sua ligação com uma das personagens; e Scream na natureza dos crimes e nas brincadeiras com o género. Além de serem todos, de uma forma ou de outra, referidos directamente em diálogos. Já dizia Picasso: “Bons artistas copiam, grandes artistas roubam”. Esta não é uma obra cinematográfica que só pode ser alcançada por um grande artista, contudo requer um bom artista. E Nahnatchka Khan, que tem aqui a sua segunda longa-metragem como realizadora, é sem dúvida uma boa artista. Isto no mínimo, tendo em conta que produz e escreveu alguns episódios de American Dad (2005-) e criou Young Rock (2021-2023).
O elenco, quase na sua totalidade, é mais reconhecido pela sua vertente cómica, como Julia Bowen que ganhou notoriedade actual com Modern Family (2009-2020). Como o enredo acaba por ser um híbrido de géneros tão distintos, não existe propriamente alguém que se destaque pela sua personagem hilariante ou assustadora. Kiernan Shipka tem a responsabilidade de carregar o filme às costas, sendo a protagonista, e fá-lo com segurança, sem ofuscar ninguém.
Totally Killer, desde o seu título até ao seu conteúdo, é divertido e mantém-nos entretidos ao longo de cerca de 106 minutos de filme. Creio que seja esse mesmo o principal objectivo deste slasher. Tem um twist final interessante para ajudar à festa, e integra-nos num jogo de piadas de comparação entre o que é politicamente correcto no presente e o que era “aceitável” no passado, que só a protagonista e a audiência sabem que existe, um conceito com potencial de gargalhada forte em alguns casos!
1 comentário
Obrigado por seguires o nosso trabalho!