Com passagens por vários festivais de terror, inclusive o nosso MOTELX, o filme da mexicana Issa López não só causou furor por todos os sítios onde andou, mas também conseguiu angariar alguns ilustres louvores dos seus conterrâneos, um deles a quem Tigers Are Not Afraid (Vuelven no seu título original), a história de um gangue de cinco crianças apanhada no meio de uma guerra de cartéis e dos fantasmas por ela criados, deve muito: Guillermo Del Toro.
Tigers Are Not Afraid é uma ode à inocência interrompida pela brutalidade que abunda em território mexicano – que fica bem claro com a abertura do filme a ser marcada com o número de mortos desde 2006 – num contraste que torna fáceis as comparações com El Laberinto del Fauno (2006) ou El Espinazo del Diablo (2001). Não tem a invenção ou o engenho dos filmes de Del Toro, mas trabalho de Issa López tem um cunho pessoal, em que claramente o foco principal é a vida destruída destas crianças e não necessariamente as fantasias que se entrelaçam com a realidade. A violência do mundo que fez destes garotos órfãos pode andar de mão dada com os contos de fadas por estes imaginados, envolvendo príncipes, desejos mágicos e, claro está, tigres, no entanto estas não são sinais de “escapismo”, são sim elementos tão reais para estes miúdos como o calor das balas que lhes passam junto à pele em diversas sequências do filme.
O aliar dos elementos mais habituais do cinema de terror com a trama principal do filme – os órfãos a tentar desmantelar o cartel dos Huascas – nem sempre é bem-sucedido, nalguns momentos sentindo-se que as duas não estão tão harmoniosas como já vimos fazer anteriormente em filmes nos quais se inspira. Ainda assim, López mostra que tem um olho muito visual e uma qualidade brilhante de colocar 5 miúdos sem qualquer experiência anterior, a dar atuações absolutamente brilhantes – Juan Ramón López como Shine é especialmente interessante, com uma fachada de rigidez e implacabilidade a disfarçar aquilo que um outro olhar descuidado deixa ver por entre as frestas da armadura: a fragilidade de uma criança que lhe viu a infância ser roubada a tiro e fogo.
Tigers Are Not Afraid tem no seu núcleo uma chamada de atenção ruidosa para a tragédia que é o quotidiano numa zona de guerra, e mesmo que essas ideias não sejam tão desenvolvidas como podiam ter sido, a solidez da realização e o carisma incansável dos seus protagonistas constroem um filme de terror que, quando lhe falta a profundidade, compensa em visceralidade.