tick, tick…BOOM! é uma biopic sobre Jonathan Larson, um compositor, muito talentoso, que fez de tudo para atingir o seu sonho de um dia ter um musical na Broadway. Uma viagem que explora a sua luta pelo reconhecimento e a esperança que espairece quando Jonathan começa a receber várias rejeições.
Este é o primeiro filme realizado por Lin-Manuel Miranda e é impossível não notar o amor que ele sente por este projeto, pois Jonathan Larson foi uma das suas grandes inspirações da sua carreira. O resultado final é uma bonita homenagem ao seu trabalho como artista, como à própria pessoa que foi Larson.
O próprio título escolhido trabalha tanto como uma forma de referência do musical composto pelo homenageado, como também rima perfeitamente com o próprio núcleo da narrativa, que vagueia em torno da ideia de que não há tempo a perder, tanto para fazer aquilo que gostamos, como também para estar com aqueles de quem gostamos.
O ponto emocional deste musical está na habilidade que Lin-Manuel Miranda insere na construção do enredo e na atuação contagiante de Andrew Garfield, que interpreta Jonathan Larson com uma visão positiva sobre o seu futuro, sempre com um sorriso na cara e pronto para apoiar os seus próximos. No entanto, pouco a pouco, entramos no mundo deste protagonista e a ansiedade crescente que ele sente começa a afetar a audiência, ao ponto de nos fazer ficar totalmente paralisados em certas situações.
A certa altura, cria-se uma divisão acerca do investimento emocional em algumas personagens até o argumento introduzir informações que valorizam o elenco secundário dramaticamente, exigindo um esforço homérico para comprimir qualquer tipo de emoção expressa através dos olhos. É neste ponto que se compreende a genialidade do argumento pois a audiência fica tão obcecada e frustrada em conjunto com o protagonista que esquecemos a importância daqueles que o rodeiam, contudo, no momento preciso, Lin-Manuel Miranda recorda a sua importância, não só para Larson, mas para a própria construção do filme.
Durante o progresso da longa-metragem, existem momentos preocupantes que demonstram uma suspeita da história ser contada sem percalços, como se tudo fosse perfeito, mas quando chegamos ao terceiro ato, cai uma bomba no colo e percebemos a intenção da realização neste processo.
O contexto de Nova Iorque na década de ’90, está muito bem recreado e pertinente para perceber o drama que alguns membros mais próximos do grupo de amigos de Larson, estavam a passar, tornando-se relevante para a construção deste sentimento overwhelming do filme.
tick, tick…BOOM! é uma bonita homenagem a Jonathan Larson, com alguns problemas de ritmo e uma realização que por vezes cria a sensação de uma peça de teatro, porém, nenhum destes aspetos retira a festividade, amor e tragédia de uma obra sobre um génio contemporâneo e sobre a vida de alguém que continuou à procura daquilo que sonhou, apesar das suas adversidades. Toda esta energia é captada na performance fenomenal de Andrew Garfield, que no seu sorriso demonstra a frustração desta personagem, acompanhada por uma réstia de esperança que um dia atingiria o seu sonho. Quer ele tenha conseguido saborear isto ou não, pelo menos nós podemos fazer isso por ele.