Nas mãos de Peter Jackson, em 2018, surge um dos melhores documentários sobre a Primeira Guerra Mundial. Mais de 100 anos se passaram desde o final de uma das guerras mais sangrentas do século XX, e ainda há tanto por descobrir. Apesar deste ser um dos propósitos deste documentário, na verdade, a força desta obra reside muito na proximidade que Peter Jackson consegue levar o espectador ao comum dos tommies na frente ocidental.
Existe uma certa magia na arte documental, principalmente quando se trata de temas como este. O facto de hoje ser possível dar voz a uma cara aparentemente esquecida é algo único e fascinante. Uma maneira de devolver uma certa identidade a alguém que, de outra forma, estaria perdido no tempo. Não obstante, para ser justo, este filme propõe-se a fazer isso, mas, na verdade, o objetivo principal é mesmo transmitir essa mensagem. É o eterno agradecimento de gerações futuras a uma geração cujos demasiados nomes, vozes e vidas foram esquecidos.
É um documentário bastante íntimo e chocante. O vislumbre visual que nos é proporcionado, em grande parte devido ao incrível trabalho de coloração e construção de frames, dando uma sensação de movimento mais natural e moderno, joga a favor da narrativa da obra, pois torna muito mais perceptíveis as condições horríveis que aqueles homens tiveram de suportar naquela frente. Pode parecer que não, mas ver imagens de arquivo com uma coloração tão vibrante consegue mesmo mexer com as emoções. É um realismo que obriga a audiência a tomar consciência de como aquelas vidas foram verdadeiras.
Um ponto interessante é a subversão que nos é apresentada. Muitas vezes pensamos na Primeira Guerra como batalhas lutadas no meio da lama, sob chuva intensa e um nevoeiro cerrado. Apesar de verdadeiras e tenebrosas, aqui, o que se torna ainda mais assustador é o sol e o céu azul que pairam sobre estes seres humanos antes das suas mortes. Atribuindo uma sensação de quão pequenos somos em relação ao que nos rodeia. É o mundo e o tempo sendo indiferentes às nossas desavenças.
They Shall Not Grow Old é uma experiência assustadora, mas que presta um enorme serviço ao lembrar aqueles que de outra forma não seriam recordados. Mesmo aqueles que não têm voz ficam guardados nestas imagens para que um dia alguém possa dar-lhes um nome e uma memória.