Bom, alguém pediu por ideias novas, arrojo nas decisões, tanto narrativas como de interpretação, e ambição como toque final? Então pediram por They Cloned Tyrone, e podem agradecer a Juel Taylor (Realizador e co-argumentista) por ele ter atendido o vosso pedido.
Fontaine (John Boyega) vive no seu bairro, na sua rotina habitual sem grandes sobressaltos, até que um desentendimento desencadeia uma série de acontecimentos que o transportam para um mistério de proporções maiores do que a sua realidade, para o qual ele não estava preparado, mas que sente necessidade de resolver.
Todos os filmes são resultado de influências de outros filmes, outras histórias, outros pensamentos, outros artistas. Mesmo os mais inventivos. Uma parceria improvável entre três pessoas que não estão minimamente apetrechadas de argumentos para lidar com um mistério não é uma fórmula nova, mas quando bem conseguida proporciona-nos uma aventura divertida. Pequenos traços de Get Out (2017) e Us (2019) de Jordan Peele nas ideias (com a ressalva de que não há intenção de captar a essência de terror destes exemplos), e alguns toques de Sorry to Bother You (2018) na linguagem cómica do enredo e no tom do filme, são algumas das influências que conseguimos identificar mais facilmente em They Cloned Tyrone. Mas o que é bom em ir buscar referências em filmes surpreendentes, é que quando usamos para criar algo que na sua base tem a nossa voz, usamos essas referências em prol de algo com identidade. Foi o que Juel Taylor e a sua equipa fizeram.
A premissa é curiosa, o desenvolvimento vai de encontro ao que estaríamos a imaginar, e a conclusão vai mais longe do que seria de supor, mas tudo isto só capta a nossa atenção porque há um trio maravilha a deliciar-nos com a sua química inegável, e carisma. John Boyega está quase irreconhecível no papel de Fontaine, toda a linguagem corporal, voz e caracterização, estão ao serviço de uma interpretação diferente do que lhe temos visto na sua carreira. É um carimbo na certidão de camaleão do actor. Jamie Foxx e Teyonah Parris são como um só, uma parelha que merecia uma série de comédia sobre mistérios macabros. A dinâmica é tão forte que é como se todos os diálogos soassem a improviso, mas com a consistência de um argumento estruturado. As opções tomadas pelos dois para interpretar um chulo e uma prostituta parecem, à primeira vista, previsíveis, mas as nuances acrescentadas por ambos, tornam cada um deles um feito à parte no filme, nunca saindo do contexto em que estão inseridos. Jamie Foxx em particular, fez-me pensar novamente que se eu pudesse escolher elencos das grandes produções, ele seria sempre escolhido, tal é o seu talento inacabável.
Este é daqueles casos em que não queremos desvendar demasiado do enredo para não estragar a experiência da visualização, apesar de ter um registo cómico do início ao fim, não levando as suas ideias mais profundas demasiado a sério. No entanto, tem as suas camadas, e é como se se mostrasse disponível para ser acessível a quem quer ver o filme para pensar sobre ele, ou quem o quer ver só para se entreter. Qualquer que seja a nossa decisão, ou mood no momento, é uma win-win situation.