The Wild Robot (2024)

de Guilherme Teixeira

Baseado na série de livros homónimos de Peter Brown, The Wild Robot tem a assinatura de uma das mentes brilhantes por detrás de filmes como How to Train Your Dragon (2010) e Lilo & Stitch (2002), Chris Sanders, que marca aqui a sua estreia nas longas-metragens de animação como o único realizador creditado. Esta adaptação acompanha a história de uma robot, Roz (Lupita Nyong’o), que, depois de se despenhar numa ilha inabitável, se vê obrigada a superar o ambiente hostil, enquanto constrói relações com os animais que encontra no seu caminho e depressa se torna a mãe adotiva de um ganso, Brightbill (Kit Connor).

Admito que as expectativas não eram altas. É verdade que o realizador tem currículo para indicar o contrário, porém a DreamWorks sempre teve um fraquinho para navegar entre o oito e o oitenta no que toca à qualidade das suas produções. Felizmente, esta obra é de encher os olhos em termos de narrativa, como também na sua animação visualmente deslumbrante. É o tipo de filme que tanto serve para divertir a criançada como para desafiar os mais velhos que os acompanham a não deixar cair aquela lagrimazita marota. A história explora com bastante delicadeza o significado de família, não tanto aquela em que nascemos, mas aquela que escolhemos pertencer; navega com bastante competência por dramas humanos como o de lidar com o sentimento invasivo de não pertencer neste mundo ou no nosso meio ambiente, como também os desafios que a vida apresenta e a dificuldade de os superar. Há um certo humor sórdido, principalmente no que toca a piadas envolvendo a cruel realidade do mundo animal e, apesar de se repetir algumas vezes, nunca deixa de tirar um sorriso.

É gira também a rima que Sanders faz em relação ao amadurecimento de Roz; a ironia de alguém que foi programada para fazer tudo de uma forma, à falta de melhor termo, robotizada, ser confrontada com uma simples criança, e as situações infinitamente imprevisíveis que isso acarreta, obrigando a protagonista a fugir ao algoritmo e a lidar com cada situação da melhor forma possível, o que é código para – se estiver vivo, estamos bem. Faz lembrar quando as pessoas têm o primeiro filho e durante os primeiros tempos acham que descobriram a fórmula perfeita para educar uma criança, eventualmente percebendo que só sabem que nada sabem. De uma certa forma, quando o filme foca no crescimento de Brightbill está na verdade a contar todo o processo de humanização e amadurecimento de Roz.

O filme perde-se ligeiramente quando foge do que move emocionalmente a narrativa e passa para um plano mais de ação, mas é um acto compreensível porque para todos os efeitos é uma história que mira para um público mais jovem. A realidade é que esses minutos extras nunca arruinam a experiência, simplesmente deixam o sentimento de que o impacto emocional seria maior se tivesse optado por permanecer na sua direção ao invés de um encerramento que é precedido de uns contratempos superficiais. Para todos os efeitos, são mais uns minutos de espetáculo visual e uma rush de adrenalina que nunca fez mal a ninguém.

Quanto aos atores por detrás destas personagens o destaque vai, obviamente, para Lupita Nyong’o que consegue atribuir uma leveza e doçura a Roz, e para Pedro Pascal que dá vida a Fink, uma raposa que ajuda Roz na sua jornada e que serve como um forte alívio cómico, mas sem nunca afetar de forma negativa os momentos mais dramáticos, aliás, acaba mesmo por contribuir para esse ambiente.

The Wild Robot é visualmente e narrativamente emocionante. Acompanhar toda a trajetória de Roz realmente consegue colocar à prova o maior dos Grinch’s, principalmente quando percebemos que cuidar deste pequeno ganso deixa de ser uma mera tarefa de um mero robot. Tem tudo o que forma uma animação clássica e pode-se argumentar que os contornos que a história toma são um pouco previsíveis, porém a forma como chega lá é feito com maestria e coração.

4.5/5
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