The Watchers (2024)

de Guilherme Teixeira

Os Watchers são seres sobrenaturais que vivem numa floresta remota na Irlanda. Certo dia, Mina (Dakota Fanning), uma jovem artista, cruza caminhos com estes seres e refugia-se numa casa junto de outros três estranhos: Madeline (Olwen Fouéré), Ciara (Georgina Campbell) e Daniel (Oliver Finnegan), que, todas as noites, são observados por estas misteriosas criaturas, sem escapatória possível.

O filme tem a assinatura de Ishana Shyamalan, que claramente aprendeu algumas coisinhas com o seu pai (M. Night Shyamalan), nomeadamente a arte de pegar num enredo interessante e esquecer por completo como é que os seres humanos se comportam. São conveniências atrás de conveniências, deduções que os personagens tiram do nada, explicações que chegam sempre na hora certa e, ironicamente, tendo em conta a quantidade de exposição barata, ficam sempre bastantes perguntas óbvias por responder, possivelmente porque iria tornar o filme consideravelmente mais curto ou porque simplesmente o argumento precisa que os personagens façam algo ou reajam de uma certa forma, só para poder avançar com a história.

Dando alguns créditos a The Watchers, a ambientação que se cria aqui é bastante interessante. O não saber o que está do outro lado, quando a câmera foca em algo e não se percebe bem o que ali está, ativa um medo primitivo, e a composição sonora também ajuda, principalmente na floresta, onde cada barulhinho parece ser um sinal de perigo.

Chegamos, portanto, a um dos pontos mais cruciais: o ritmo, que, por sinal, é bastante estranho. Não há aquele sentimento de progressão, como se estivéssemos mais perto de chegar a algum lado, e as personagens são tão unidimensionais que não mostram nenhuma evolução. Se o objetivo fosse fazer o espectador sentir-se tão perdido como a protagonista, com o secretismo das pessoas, o ambiente de que algo de errado se passa, de dúvida sobre se existe de facto uma ameaça… é seguro dizer que falhou, pois nem a própria se mostra dessa forma. Aliás, se existe alguma rebeldia da protagonista em relação às regras estabelecidas, é fruto de uma necessidade artificial para criar tensão e não necessariamente para avançar com a narrativa.

Não obstante, o problema reside mais num sentido estrutural do argumento, na medida em que as informações são meio que dadas de uma forma bastante aleatória, contudo, bastante convenientes para o avanço da história. Parece que num momento estamos completamente às cegas e noutro já sabemos tudo. Não existe uma explicação justificada para que certas revelações sejam dadas tão tardiamente. Tal podia ser explicado se fosse algo que as personagens fossem descobrindo; todavia, na maior parte das vezes, trata-se de exposições baratas que podiam ter sido dadas logo no primeiro momento. Estranho também como ninguém questiona certas explicações ou acontecimentos. Parece que todas as personagens decidem aceitar, ou, quando decidem fazer perguntas, recebem uma resposta à base do “porque sim” e segue jogo.

Já o final parece ser uma paródia feita por alguém que despreza discursos motivacionais. E por razões de spoiler, mais não escrevo. É uma coisa tão absurda que, por momentos, comecei a torcer para que o monstro conseguisse chegar perto da protagonista, o que, para bom entendedor, meia palavra basta.

The Watchers é um filme okayzito. Incomoda mais do que agrada, mas aquilo que perturba não é suficiente para fazer questionar todas as razões existenciais sobre a raça humana. Pelo menos, a tradição familiar continua e, mais uma vez, sinto pena pela falta de capacidade de desenvolver uma premissa tão interessante.

2/5
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