A primeira longa-metragem, escrita e realizada por Keith Thomas, traz ao grande ecrã um filme terror espiritual com o toque de mitologia Judaica. Um jovem, Yakov Ronen (Dave Davis), antigo membro da comunidade Judaica Ortodoxa, sofre de stress pós-traumático e vive numa luta para conseguir pagar a renda de casa. Um membro da comunidade Judaica Ortodoxa oferece-lhe uma oportunidade de trabalho. Yakov tem de ser um Shomer, um vigia que irá proteger um morto, Rubin Litvak, dos espíritos do mal durante a primeira noite após a sua morte.
Há sempre um lado que desperta curiosidade em filmes que, ou desmistificam antigas lendas, ou que, como no caso de The Vigil, (re)mistificam a mitologia. O que pode haver de errado com esta premissa? Apenas a sua execução, a sua forma. E é na sua execução e forma que o filme falha em pontos fulcrais.
Na narrativa existe desde logo algo que parece cair na incoerência deste ambiente que o filme nos traz. Esta relação deste mito ancestral com a tecnologia digital – por mais que seja uma aproximação da realidade da atualidade – parece não conseguir transmitir a verosimilhança necessária para manter um equilíbrio do ambiente que nos é apresentado. Usar a lanterna do telemóvel é algo que não parece trazer desconforto, mas quando ultrapassa essa utilização de criar luz na escuridão – típica em filmes de terror – para uma utilização mais “digital”, parece deixar de fazer sentido neste universo.
Ainda que use bem de um terror atmosférico com uma boa dose de suspense e de tensão – que dignifica o filme, em parte – The Vigil também cai no erro de usar os jump scares da forma mais básica e inútil possível. Parece uma tentativa de agradar ao espectador comum – que está habituado a essa técnica. É como se Keith Thomas e o seu estilo pudesse não ser suficiente para deixar o espectador com medo de voltar para casa sozinho à noite. Dentro desta aparente insegurança e também ligado, em parte, a estes jump scares, temos ainda o som/música que parece não conseguir acompanhar a atmosfera do filme na maior parte do seu tempo. Não é apenas a brincar com os volumes, com os crescendos, que se cria tensão no espectador. Não é apenas o cortar do som de repente que petrifica o espectador. O som não deveria ser apenas uma utilidade funcional do cinema e The Vigil parece não ter a maturidade para explorar isso.
Excluindo algumas partes verbalmente explicativas, o filme não é aborrecido, tem um ritmo confortável, ainda que possa deixar alguns espectadores a desejar mais. Os atores mais presentes, nomeadamente Dave Davis (Yakov Ronen) e Lynn Cohen (Mrs. Litvak), dão ao filme uns pontos extra na sua verosimilhança assim como os efeitos especiais, muitas vezes subtis, mas bem usados. Desta premissa é também de salientar que o tema do stress pós-traumático, e de que como essa condição tem um forte peso para o filme, acrescenta uma camada extra à narrativa. É uma ponte entre personagens que devemos perceber.
The Vigil acaba por ser um filme com uma narrativa com a capacidade de nos agarrar ao grande ecrã tendo em conta a sua premissa. Não perde por falta de potencial, mas sim por falta de execução. Em geral não é tecnicamente mau, mas tem falhas graves que não permitem alcançar o seu grande potencial, o filme que o espectador espera ver, o filme que poderia ser, mas não é.