Realizado por Tom Gormican, também responsável pelo argumento ao lado de Kevin Etten, The Unbearable Weight of Massive Talent (O Peso Insuportável de um Enorme Talento), segue uma versão ficcional de Nicolas Cage, interpretado pelo próprio, que perante a ruína financeira e com a falta de trabalho vê-se obrigado a aceitar uma proposta de 1 milhão de dólares para marcar presença na festa de aniversário de Javi (Pedro Pascal), um fã incrivelmente fanático e com a peculiaridade de ser extremamente perigoso, levando Nicolas Cage a colaborar com a CIA para o investigar.
Este filme é uma celebração satírica da carreira de Cage. Existem referências em todo o lado, desde os diálogos aos variados estilos que o filme persegue durante a narrativa, incluindo a exposição de artigos colecionáveis que marcaram a sua filmografia nos últimos 40 anos. Há uma inesperada profundidade no debate sobre aquilo que tem sido a carreira de Cage ao longo dos anos. A audiência é levada a explorar, de uma forma caricaturada, os dramas que percorreram a mente do protagonista com o bónus de sermos acompanhados pelo próprio nesta reflexão.
Existe um debate muito interessante, apesar do filme fazer pouco disso, sobre a diferença entre ser um ator e uma estrela de Hollywood. O primeiro, normalmente, procura aquilo que vai acrescentar algo não só para a sua carreira, mas também para a arte como um todo e, por outro lado, temos os astros de Hollywood que, não tendo mais nada para alcançar, decidem aceitar papéis superficiais capitalizando na visibilidade dos grandes estúdios. No fundo, é Nicolas Cage a contar de uma forma muito Cageiana como é que conseguiu desconstruir o ego que o seu enorme talento lhe proporcionou.
Por norma, sabemos que estamos perante uma boa atuação quando deixamos de ver a personagem e começamos a ver a pessoa. Cage oferece uma atuação cheia de camadas conseguindo dizer à audiência que aquilo é apenas uma personagem, mas que, ao mesmo tempo, é ele a falar sobre a sua vida, dando um toque muito pessoal ao filme. Pedro Pascal também está excelente como Javi e a química com Cage é o que preenche o filme dando lugar a momentos de rir às gargalhadas, mas também de aquecer o coração, pois são nestes momentos em que o filme explora de forma mais apaixonada as referências à filmografia de Cage.
O argumento é ativamente consciente das suas falhas, e também dos possíveis erros que este tipo de história pode levar, e brinca muito bem com esse aspeto. Nas mãos de um realizador menos talentoso isso poderia significar uma história preguiçosa que usaria este recurso para reconhecer os atalhos e assim ignorar alguns plot holes. Porém, esta longa-metragem sabe perfeitamente quando deve abraçar os clichés e quando deve subvertê-los. Um exemplo é o arco narrativo que envolve a relação familiar entre Nicolas Cage, a sua filha, Addy (Lily Mo Sheen), e a sua ex-mulher, Olivia (Sharon Horgan). Ambas estão muito bem no filme e têm uma importância crucial no primeiro ato, nomeadamente, na criação de um ambiente de frustração em relação às decisões que Cage foi tomando durante a sua vida, levando a um reality check que, apesar de ser bastante previsível, cai muito bem na narrativa. Isto acontece porque o argumento consegue abstrair a audiência ao apresentar, durante algum tempo, o protagonista a sair de encruzilhadas sem muitas consequências, para além de alguns momentos constrangedores, mas depois, quando a história aperta o travão, a audiência acaba por se sentir cúmplice daqueles mesmos erros. Um dos grandes trunfos deste argumento é o facto de conseguir ser imprevisível, mesmo na sua previsibilidade. O máximo que sabemos é que algo vai acontecer, mas nunca o caminho que a história vai tomar e como o vai fazer.
Ainda assim, o arco que envolve os dois agentes da CIA, interpretados por Tiffany Haddish e Ike Barinholtz, é incrivelmente desinteressante. As piadas não funcionam e os atores também não conseguiram tirar o máximo daquilo que lhes foi dado, principalmente Tiffany Haddish que se recusa a fazer uma personagem diferente daquilo que sempre faz, nem tenta acrescentar alguma relevância ou camada para esta sua personagem.
The Unbearable Weight of Massive Talent é uma celebração satírica da carreira de um dos atores mais enigmáticos da sétima arte. Abraça todos os estilos e géneros da filmografia de Nicolas Cage, desde os mais sérios, como Pig (2021) ou Leaving Las Vegas (1995), até aqueles que fazem rir de confrangimento, como, por exemplo, The Wicker Man (2006), mas no final o que fica é o carinho de estar a assistir a um filme de, com e para Nicolas Cage.