Durante a Segunda Guerra mundial, um batalhão de mulheres negras do exército norte-americano, lideradas por Charity Adams (Kerry Washington), assume uma difícil missão de resolver o atraso de 3 anos de correspondências não entregues entre aqueles que partiram para a Europa e aqueles que ficaram.
Esta longa metragem, com a assinatura de Tyler Perry, baseado no artigo de Kevin Hymel, captou o interesse, durante algum tempo, devido ao facto de se tratar de uma história situada na Segunda Guerra Mundial, pouco explorada. Porém, o tempo veio a justificar a desconfiança da gigante vermelha neste projeto.
Dizer que existem bastantes decisões questionáveis seria insuficiente para descrever o rumo da história. É possível que muito do público se sinta traído pela sinopse, porque em pouquíssimos momentos o filme decide abordar o trabalho desempenhado pelas mulheres deste batalhão, e, quando o faz, é de uma forma bastante preguiçosa. Quando aparece algum tipo de dificuldade, rapidamente arranjam uma solução e passam de imediato para uma montagem de como tudo corre lindamente, seguido por uma pausa para deixar uma das protagonistas descobrir mais uma forma de facilitar o trabalho, seguido por mais uma montagem, e assim por diante. É repetitivo. Nos tempos mortos, somos obrigados a acompanhar momentos para lá de melodramáticos envolvendo discursos emocionais com uma banda sonora épica, ou um relacionamento que aparece do nada, ou uma realidade de preconceito que é tratada, infelizmente, da forma mais banal de sempre. Nada aqui parece merecido, as relações que as personagens desenvolvem são demasiado forçadas e o racismo estrutural que o filme tenta pintar é apenas através de personagens demasiado caricaturais, e resolvido por um monólogo.
A banda sonora carece de inspiração. É o clássico instrumental que num bom filme de guerra poderia dar uma aura épica e emocionante à narrativa, mas aqui serve só para tornar ainda mais constrangedor a experiência que é ouvir 500 vezes o mesmo discurso. Aliás, o filme opta por entregar a sua mensagem em diálogos mas raramente visualmente, criando uma contradição bizarra, onde não vemos as palavras das personagens em ação. São poucos os momentos em que são mostradas as dificuldades e a falta de condições que estas mulheres passaram, até porque o filme nunca entrega uma real noção de passagem de tempo, o que, por vezes, dá a sensação que não existe uma ideia de urgência nesta missão.
A conexão emocional que se tenta criar é tudo à base do carisma das atrizes e das injustiças que as suas protagonistas sofrem. Mas para além de ser tudo demasiado teatral, chegando até a haver momentos em que parece realmente que as atrizes estão à espera de alguma reação da contraparte ou de risos no fundo, não existe um mínimo de sinergia no elenco, e as atuações ficam demasiado aquém. Culpo principalmente o argumento, por não dar muito contexto para nenhuma das personagens, aliás, estas figuras históricas são essencialmente reduzidas à protagonista, que está aqui para superar a morte do seu amado, a uma mulher resmungona mas engraçada, e duas amigas mais certinhas que só são amigas porque calhou. É a tal dinâmica de Friends (1994-2004) onde cada membro do grupo tem uma personalidade e tentam cativar pobremente a audiência com isso.
Não há uma verdadeira discussão sobre a segregação racial reduzindo-se apenas ao confronto entre o general Halt (Dean Norris) e Charity Adams. A sua dinâmica é demasiado básica, um diz algo asqueroso para ser respondido com um monólogo. Não existe uma discussão honesta sobre a luta pela inclusão de mulheres negras no esforço de guerra. Tudo se resume a dramas pessoais dentro do batalhão ou a relacionamentos. O filme nunca justifica o seu investimento emocional e só dá espaço a discursos de impacto. The Six Triple Eight conta a história de pessoas que estiveram neste batalhão, porém é demasiado pobre a explorar as suas dificuldades e falha, principalmente, em contar o extraordinário trabalho realizado por estas 855 mulheres.
