(Filme integrado na programação do Festival Futurama)
Em The Seeds of Vandana Shiva (em português As Sementes de Vandana Shiva), Camila e James Becket revelam a fascinante história de vida de uma das mais prolíficas ativistas ambientais dos nossos tempos, Vandana Shiva, criando um documentário revelador, ainda que lisonjeiro.
Através da cronologia de vida de Shiva, desde criança até à sua carreira enquanto ativista, com foco para o seu mais relevante legado enquanto defensora da agricultura orgânica e dos pequenos agricultores, este filme traça uma história de resiliência, resistência, e conquista.
Vandana Shiva é uma mulher singular, com, como é mencionado no documentário, a energia de centenas de pessoas condensadas numa só. A sua visão do mundo e a forma aguerrida com que se faz a ele são, por si só, tópicos extremamente ricos, independentemente das causas a que ela escolheu dedicar-se.
The Seeds of Vandana Shiva torna-se, então, um documentário mais interessante quando abordado como um documentário biográfico sobre Shiva, e não um documentário expositivo sobre ativismo ambiental, ou as causas que o movem. É importante esta distinção, porque, apesar de Shiva não existir separada do seu trabalho, qualquer espectador que entre neste filme com a esperança de aprender mais sobre as causas pelas quais a protagonista se move, sairá desiludido.
O filme faz uma exposição superficial de todos os temas que marcaram a vida de Shiva, nunca se debruçando seriamente sobre eles. Apesar de nunca se propor a ser um documentário aprofundado sobre a desflorestação, a agricultura bioquímica, ou o feminismo dentro do ativismo, o facto de representar apenas uma visão subjetiva sobre estes assuntos pode incomodar os espectadores mais instruídos que esperassem uma produção mais científica ou analítica. Isto, também, porque, ao longo do filme, ficamos a saber que Shiva é uma ativista altamente controversa, alvo de várias e fortes críticas, as quais nunca são exploradas na película do casal Becket. Em vez disso, e por o documentário ser um tributo a Shiva, estas críticas são enquadradas como ataques pessoais, movidos por interesses monetários e imperialistas.
Assim sendo, The Seeds of Vandana Shiva depende muito do carisma da sua protagonista para brilhar, e Shiva tem carisma às carradas. Os momentos em que é entrevistada são os pontos altos deste documentário, pois permitem à audiência ficar a conhecer esta mulher, como se, no lugar dos realizadores, eles próprios estivessem a ter uma conversa com Shiva. A ativista relata a sua própria vida com sinceridade e vulnerabilidade, e os momentos mais sensíveis em que discute o seu casamento ou a relação com a sua família são preciosos, pois revelam a mulher por detrás das causas. Toda a família de Shiva é, aqui, convidada a falar sobre a ativista, o que contribui para o caráter enaltecedor do filme, mas também para a sua intimidade.
The Seeds of Vandana Shiva apenas peca por usar a história de vida de Shiva como um argumento emocional a favor das causas controversas que esta defende, em vez de tentar explicar porque é que estas causas merecem a atenção do espectador. No entanto, enquanto uma biografia audiovisual, funciona extremamente bem, pois permite-nos perceber a conjetura social e política que originou esta mente destemida, assim como o cerne de Shiva enquanto mulher desafiadora, freethinker, e revolucionária.