The Remarkable Life of Ibelin (2024)

de Guilherme Teixeira

A vida de Mats Steen, um jovem jogador de World of Warcraft, é reimaginada quando os amigos que fizera online entram em contacto com os seus pais depois da sua morte. Este é daqueles documentários que conseguem derrubar até o mais forte dos fortes. Neste filme acompanhamos aquela que foi a curta, mas bonita vida não só de Mats Steen, mas também de Ibelin. Dito assim pode parecer que acompanhamos o dia a dia de duas pessoas, porém estes dois nomes pertencem a um só protagonista, Mats, como era conhecido para familiares e amigos da “vida real”, e Ibelin, para aqueles que o conheceram através do mundo online.

A estrutura da história segue dois formatos que se juntam no ato final. Na primeira parte é o contexto familiar e é onde conhecemos Mats e a sua vida fora do computador, contado sobretudo através de relatos e imagens de arquivo. É neste momento que ficamos a saber que Mats sofreu de uma distrofia muscular que o prendeu a uma cadeira de rodas. Acompanhamos também os dramas que os pais passaram e como tentaram lidar com o conhecimento de que era uma questão de tempo até não dar para adiar mais o inevitável. É também bastante comovente perceber o dilema de, por um lado, deixar Mats viver a sua vida, por outro sentir que, à frente de um computador, estaria a desperdiçar tempo valioso que poderia ser aproveitado para viver, ir conhecer pessoas, apaixonar-se, fazer parte da comunidade. Mal sabiam que Mats fazia exatamente isso, mas de uma forma menos convencional.

Já na segunda parte, o filme adota a animação do jogo e aqui já ouvimos mais a narração de Mats, (na verdade, um ator a simular a sua voz), ou, para ser mais rigoroso, Ibelin. Nesta fase já é o próprio a contar a sua história e é neste preciso momento que ficamos realmente a conhecer a pessoa pelas suas próprias palavras e ações. Os dramas, dilemas, as suas atitudes e como impactaram outros. O seu primeiro amor e as amizades que ao longo dos anos foi formando, num mundo em que, aparentemente, a sua condição não o inibia de fazer qualquer. Ali, podia caminhar, correr, saltar, e sair com pessoas com os mesmos gostos e interesses. É certo que se pode argumentar até que ponto é que tudo aquilo era real? Bem, para quem viu o documentário realmente fica bastante difícil argumentar que não foi.

No terceiro ato, a animação mistura-se com as imagens de arquivo e é quando nos apercebemos que Mats começa realmente a apanhar Ibelin. É um murro forte no estômago, porque o documentário realmente consegue aproximar a audiência desta pessoa e, por momentos, enquanto estamos a acompanhar a parte animada, esquecemos da sua condição. Contudo, a emoção que traz é de certo modo positiva, na medida em que se torna quase como uma conclusão de um arco de redenção. Como se Ibelin passasse a vida toda a correr de Mats e agora estava na altura de o aceitar, não como uma debilidade mas como parte de si.

The Remarkable Life of Ibelin faz um fantástico trabalho ao explorar a importância e o impacto que o online pode ter em muitas gentes, onde se sentem confortáveis num mundo onde o julgamento reside bastante no caráter. E isso é raro. 

4/5
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