Baseado em imagens de arquivo dos confins da própria Casa Branca, Sierra Pettengill usa estes recursos propagandísticos para traduzir o que se passava na cabeça de um dos mais famosos presidentes da história norte-americana e também para fazer um contraponto com a situação de 2017, quando outra celebridade televisiva chegou ao poder.
A realizadora confessou, numa sessão, que o filme está longe de perfeito, o que contraria a norma de pessoas criativas envolvidas neste género de documentários que partilham opiniões pessoais sobre os seus trabalhos revolucionários. Como um grande admirador desta figura (de frisar “da figura” e não das políticas), afirmo que Sierra Pettengill consegue captar muito bem aquilo que era a mística em torno da primeira celebridade televisiva a chegar à Casa Branca e a forma como Reagan conseguiu instrumentalizar a imprensa a seu favor, mesmo nos momentos mais críticos da sua administração.
A cobertura do programa ”Star Wars”, o programa patrocinado por Reagan para colocar armas no espaço, e toda a guerra de narrativas entre a Casa Branca e o Kremlin concedem ao documentário energia suficiente para carregar o interesse do público, oferecendo uma interessante perspectiva nos bastidores da guerra fria.
A realização e montagem estão impecáveis na forma como usam as imagens de arquivo para dispensar narração externa e contextualizar o tempo e o espaço, muitas vezes com recurso às imagens dos telejornais da altura.
Onde o documentário realmente falha é em captar o verdadeiro significado desse momento e a rutura que se criou ao transformar a política num verdadeiro show business em detrimento de substância. Pode não parecer muito, mas é um pilar fundamental para se concluir tendo em conta o sujeito principal deste filme e a temática que o próprio documentário propôs-se a explorar, pois, caso contrário, pouco acrescenta às informações que já sabemos em relação àquele período histórico.
The Reagan Show é um bom documentário que explora a imagem de Ronald Reagan e se desafia ao tentar desconstruí-la através de imagens direcionadas para efeitos de propaganda. Acerta em alguns momentos, falha em outros, mas no final o interesse nunca se vai embora, o que, de certa forma, reforça a mística deste personagem.