The Raid (2012)

de Janai Reis

Cinema de ação com Pencak Silat

The Raid (também conhecido como The Raid: Redemption) é um filme de ação indonésio lançado em 2011, realizado por Gareth Evans. A narrativa desenrola-se em torno de um grupo de elite policial que se infiltra num prédio dominado por um impiedoso chefe do crime. No entanto, a missão toma um rumo perigoso quando os polícias são descobertos e ficam encurralados no edifício. Agora, eles enfrentam não só a tarefa de capturar o chefe do crime, mas também a luta pela própria sobrevivência.

The Raid é amplamente considerado como um marco no cinema de ação contemporâneo, elogiado pelo seu impacto visual, pela sua mestria na criação de tensão e adrenalina, como também pela sua abordagem fresca ao género de ação, combinando uma narrativa tensa com sequências de luta de tirar o fôlego. Para falar desta frescura é importante referir ao cinema de artes marciais produzido na China até à sua chegada aos cinemas americanos (especialmente nos anos 70), como, por exemplo, os filmes de Bruce Lee: The Way of the Dragon (1972), Enter the Dragon (1973), entre outros. Assim como é importante referir que o cinema de Hollywood foi invadido pelos cineastas de Hong Kong devido à crise de 99 na Ásia e à queda da sua produção cinematográfica. Isto fez com que filmes como The Matrix (1999) tivessem pessoas como Yuen Woo-ping a coreografar as lutas. Sendo este um filme com um impacto enorme no mercado, pertencendo automaticamente à pop culture, o seu estilo bruto das artes marciais de Hong Kong (planos longos, lentes abertas e também o trabalho de cabos) tornou possível que outros filmes de artes marciais fossem produzidos. Yuen Woo-ping foi então contratado para Crouching Tiger, Hidden Dragon (2000), de Ang Lee. A explosão deste filme à escala mundial (com 4 Oscars recebidos) abriu caminho para a criação de outros filmes deste género noutros países que viram o seu mercado explodir. Na Tailândia, Panna Rittikrai fazia versões em VHS do que via nos filmes de Hong Kong, e após ter encontrado Tony Jaa, surge uma obra escrita e coreografada por ele, Ong-Bak: Muay Thai Warrior (2003), realizada por Prachya Pinkaew. O que respiramos neste filme são basicamente voos com os joelhos levantados a aterrar diretamente num peito humano, assim como fortes cotoveladas nas cabeças de qualquer um que faça frente ao personagem de Tony Jaa. Após as sequelas Ong-Bak 2: The Beggining (2008) e Ong-Bak 3 (2010), de Tony Jaa e Panna Rittikrai, surge então um novo país neste meio cinemático, com um novo estilo para mostrar. É aqui que entra a frescura de The Raid! Indonésia parece ser o local ideal para fazer algo rápido, barato e sem ninguém a controlar necessariamente o que estaria a ser feito.

Todo este contexto dá então origem a um dos melhores filmes de artes marciais já produzidos. Ainda que tenha sido um realizador Galês a trazer de volta o estilo das artes marciais na Indonésia, os atores e a equipa tinham nascido a ver os filmes de Hong Kong, então tudo o que está relacionado com ritmo, enquadramento e brutalidade, já estava aprendido. Gareth Evans não se limitou a procurar copiar o cinema de Hong Kong mas sim a inová-lo. Cada país tem a sua arte marcial local e a Indonésia tem o Pencak Silat –  o que por si só traz aos ecrãs mundiais algo nunca antes visto. Somos presos à cadeira pela cadeia de ações sucessivas não só de pancadaria mas pela própria tenção narrativa – sobreviver presos num prédio repleto de criminosos – e também formal – por exemplo, com o uso da câmara lenta para dar inicio ao incidente desencadeador desta história, esta construído de forma praticamente perfeita por captar o momento de transição entre a frieza da furtividade e a explosão de adrenalina. Não só esse momento é praticamente perfeito como o filme consegue manter o suspense durante quase todos os minutos de duração, sejam eles mais dialogados com algum teor dramático ou em lutas incrivelmente realistas. É deste realismo, conseguido através do desempenho de Rama (Iko Uwais) e dos duplos, que o filme vive, desta intensidade inerente ao sentir cada impacto físico no nosso corpo. É a tensão na cena do corredor de Oldboy (2003), de Park Chan-wook, mas em muitos mais corredores, com mais adrenalina e, obviamente, melhor coreografado. A exigência dramática não é o ponto fulcral do filme, mas é conseguida de forma útil através de uma narrativa simples que cruza algumas linhas entre os personagens.

Não é difícil de gostar de The Raid nem das suas façanhas, especialmente se tivermos em conta os clássicos já referidos e a evolução do cinema de ação e das artes marciais. É um filme que não para de inicio ao fim, que nunca sai do ponto de foco e, por isso, agarra-nos constantemente. Algo que potencializa este feito, é a composição musical de Mike Shinoda e Joseph Trapanese – não parece ser necessário dizer muito mais. Em conclusão, certamente valeu a pena Iko Uwais ter saído do seu emprego de estafeta para uma empresa de telecomunicações.

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