The Quiet Girl (2022)

de Bruno Sant'Anna

Atualmente, o cinema maximalista domina o circuito comercial com histórias de super heróis e criaturas sobrenaturais, por isso é revigorante deparar com filmes sobre pessoas comuns a construir laços afetivos através de pequenos atos de compaixão. The Quiet Girl (2022), do realizador e argumentista Colm Bairéad, é um exemplo de produção minimalista feita com sentimentos tão verdadeiros que transparecem pelo ecrã. A história consegue manter o espectador profundamente envolvido, mesmo exigindo um intenso exercício de observação de pequenos detalhes, pois ela contém uma mensagem tão recompensadora de amor que chega a ser rara. Não é sem razão que se tornou o filme irlandês com maior sucesso de bilheteria de todos os tempos, ganhando diversos prémios nos festivais de Berlim e Dublin, além de uma nomeação ao Óscar de 2023.

A rapariga silenciosa do título chama-se Cáit (Catherine Clinch), uma de muitas filhas de um casal com graves problemas financeiros que moram na área rural da Irlanda. A jovem de 9 anos sente-se excluída dos seus colegas de escola e negligenciada pelos seus pais (Michael Patric e Kate Nic Chonaonaigh), que em diversos momentos olham para ela como um prejuízo. O seu silêncio é uma forma de passar despercebida e a preservar de comentários repreendedores, ao mesmo tempo que a leva a uma existência solitária. Com a sua mãe prestes a dar à luz a mais um filho, Caít é enviada a passar as suas férias de verão com a sua tia Eibhlín (Carrie Crowley) e o seu marido (Andrew Bennett), desenvolvendo, aos poucos, um laço especial com o casal.

The Quiet Girl é um filme sem gordura. Os seus 94 minutos são todos preenchidos com momentos importantes para o desenvolvimento de todas as personagens e a construção da história. Há uma genialidade sobre essa característica da produção quando se percebe que uma das mensagens da obra é que, às vezes, é melhor falar o mínimo necessário do que falar muito e, ao mesmo tempo, nada. As decisões estéticas adotadas pelo realizador também complementam a narrativa já que não há uso de cores vibrantes e o formato do ecrã é de 1.37:1, ou seja, a imagem é estreita e limitada para o espectador prestar atenção às emoções das personagens, nos pequenos detalhes de suas interações.

Para ajudar ainda mais na experiência de imersão, todas as atuações são impecáveis, com destaque para Carrie Crowley, Andrew Bennett e, principalmente, Catherine Clinch. A jovem actriz carrega uma grande responsabilidade de guiar o espectador por um filme inteiramente focado na observação do arco de amadurecimento da sua personagem, e ela não desaponta em momento algum. Ela possui uma naturalidade admirável na expressão dos seus sentimentos através de olhares e fisicalidade. Clinch também constrói diferentes tipos de silêncios na sua interpretação, desde o que remete à solidão e tristeza até o conforto com as pessoas com quem construímos grande intimidade.

Resumindo, The Quiet Girl possui uma história sensível, terna e autêntica, junto com uma extrema competência técnica. O desfecho do filme é um dos melhores dos últimos anos, com um momento tão lindo e satisfatório para o espectador que, como disse anteriormente, chega a ser raro no cinema dramático.

5/5
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