No século XIX, em Londres, dois ilusionistas, Alfred Borden (Christian Bale) e Robert Angier (Hugh Jackman), motivados por uma tragédia, mas principalmente por dois egos enormes, desenvolvem uma rivalidade que se estende por anos e que se transforma numa competição de sabotagem e obsessão.
The Prestige tem a assinatura de Christopher Nolan, e confesso que este homem chegou a um certo patamar que qualquer coisa que apresente existe uma grande chance de quem vos escreve realizar uma transação de dinheiro por um bilhete. E, apesar de não o ter feito com este filme (muito devido ao facto de na altura contar com uns meros 5 anos) a verdade é que dá vontade de recuar no tempo para ter essa oportunidade.
Estamos perante um enorme truque de magia. Nolan dá uso de todos os recursos sensoriais disponíveis, desde a maravilhosa cinematografia, explorando da melhor forma possível as localizações, até à banda sonora que nos transporta para aquela aura de mau presságio, para iludir a audiência a olhar para um lado quando, na verdade, os contornos da história estão a desenrolar-se bem em frente dos nossos olhos.
O argumento é bastante perspicaz, mas o verdadeiro destaque é a realização. A história não segue uma linha cronológica linear, passeando bastante entre o primeiro e segundo ato, o que poderia fazer com que se tornasse pretensiosamente complicada. Porém, Nolan conduz a narrativa de forma a que cada cena, mesmo as que somos convidados a revisitar, soem sempre diferentes, adicionando mais um segmento a algo que já tínhamos visto, ou ressignificando algumas linhas de diálogo que num certo ponto pareciam indefesas, mas que mais à frente ganham outra força. O que, se formos a refletir, a base de muitas rivalidades é mesmo essa, pelo menos das mais tóxicas. Nem tudo o que é dito é ouvido da mesma forma por todas as partes, e um monte de más compreensões, por norma, tende a escalar as situações até a um ponto de não retorno.
O que uma pessoa está disposta a fazer em nome da arte? Bem, em nome da arte, não muito. Agora, em nome da vingança e, acima de tudo, do ego? Bastante. A arte torna-se num mero instrumento que ajuda os dois protagonistas a justificarem a negligência e atitudes condenáveis que decidem tomar, principalmente quando esses atos começam a afetar, de uma forma ou de outra, aqueles que os rodeiam. E quem diz arte, diz qualquer ofício na verdade. Rebecca Hall, que dá vida a Sarah Borden, mulher de Alfred, está fantástica a passar esse sentimento de desespero por não conseguir competir com o amor que o ilusionista sente pela sua arte. O mais lindo, é que essa angústia em momento algum soa repentina, pelo contrário, é perceptível nos olhos da atriz a decadência do seu estado de espírito.
Hugh Jackman e Christian Bale dão tudo aqui. São duas personagens que se encontram nos seus opostos. Robert Angier é alguém que apesar de talentoso recorre bastante ao seu carisma para persuadir as pessoas, já Alfred é um poço de talento disposto a arriscar qualquer coisa por um truque de magia. Eventualmente, acaba por arrastar Robert para o mesmo caminho, mais por uma deriva de vingança do que propriamente um desejo profissional.
The Prestige é um filmaço. Explora a relação de duas pessoas que se motivam através do ódio e da obsessão que sentem pelo outro. Uma história que demonstra entender o quão contraditória uma relação de rivalidade tóxica pode gerar. Mesmo que se consiga mais sucesso que o outro, pouco vai importar se o opositor conseguir tirar da cartola algo que nunca tínhamos pensado. A luta, apesar de tudo, vai ser sempre mais pessoal do que profissional, apesar de ser sempre a coisa sacrificada em prol do profissional.