The Postman’s White Nights (2014)

de Janai Reis

Um Leão chamado Konchalovskiy

Após já ter marcado presença no Festival de Veneza, Konchalovskiy parece ter-se perdido na bolha de Hollywood, onde trabalhou em séries de televisão, filmes de ação com o Sylvester Stallone e onde ainda realizou o grande fracasso de bilheteira, The Nutcracker in 3D (2010).

The Postman’s White Nights ou As Noites Brancas do Carteiro chega 4 anos depois, com uma forma limpa e desagregado do brilho Hollywoodesco. Um filme que segue os passos de um carteiro que serve como ponte entre os seus vizinhos, habitantes numa aldeia remota e arcaica, e a cidade tecnológica. Contudo, o filme não é sobre o carteiro, é sobre a história da aldeia, sobre as pessoas que ali vivem, como vivem e sobre como parecem esquecidas para o mundo em volta dos enormes lagos e da paisagem verde. Existe quem queira sair, existe quem queira ficar, existe quem acredite que tudo um dia irá melhorar e existe quem acredite que um dia irão todos morrer sem serem lembrados.

Na abertura do filme, presenciamos um diálogo que estabelece de imediato uma vinculação natural entre a aldeia e os seus habitantes em campo/contracampo, revelando a mestria do realizador sobre o poder único do dispositivo. Sensorialmente emocionante, o filme dá a mão ao espetador, suavemente, e transporta-o para o seu universo, tornando-o, desta forma, não só observador das histórias da aldeia, mas também, habitante da aldeia. Sente-se a calma de um cigarro; a alegria de um convívio; a tristeza da perda; a frustração da sobrevivência, mas acima de tudo, a nostalgia de um lugar que se mudou e a solidão de quem se encontra engolido pela natureza, à margem da civilização tecnológica. Só, como uma formiga num campo de cereais, como um alfaiate num rio, como um homem numa casa, como uma aldeia num mundo. É desta forma que o realizador mostra a sua realidade.

Tal como o carteiro, Andrei Konchalovskiy é uma ponte; um meio de ligação entre a ficção e o documentário. Pode nunca se saber ao certo quando é que foi tudo encenado ou quando o olhar está apenas perante o acaso, mas há certeza de que se trata de Cinema. Um filme universal, com momentos para todos os gostos, que promete marcar com imagens fortes, dentro de toda a sua simplicidade e honestidade.

The Postman’s White Nights (2014) é um filme que surge, de certa forma, “do nada”, depois do “tudo”. Um renascer no cinema, por um lado, com a despreocupação que a arte pressupõe, e por outro com a preocupação empática e humana. Este “carteiro” entrega um Leão de Prata de Melhor Realização a Konchalovskiy para colocar na história do seu cinema.

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