The Parenting é um Kit Kat de 90 minutos que até sabe bem, mas enche-nos de culpa por ter gostado.
O filme escrito por Kent Sublette e realizado por Craig Johnson promete uma comédia de terror que chama a atenção pelo seu elenco carregado de estrelas. No entanto, a dupla deixa evidente a sua longa experiência com comédia, não sendo capaz de misturar os géneros de forma convincente. Qualquer gota de sangue derramado existe apenas para servir a piada e entrega uma paródia tonta e inconsequente que arranca gargalhadas que nos fazem corar de embaraço, mas sem qualquer tensão ou susto.
A história começa com um flashback para os anos ’80 que destapa o véu daquilo que se vai passar. Voltamos para o presente onde, num tom ligeiro e ao som de Dua Lipa, acompanhamos Josh (Brandon Flynn) e Rohan (Nik Dodani), um jovem casal que decide planear um fim‐de‐semana numa casa isolada para apresentar as suas famílias. Dependendo dos casos, esta premissa em si pode ser completamente aterradora ou potencialmente hilariante.
“Would you rather have a cat that can talk but all it can say is fuck it… or a cat with a Human butt?”
Aquilo que começa por ser um tom engraçado e leve, rapidamente escala e perde as rédeas à medida que a hostilidade entre as famílias aumenta. De um lado temos a descontraída família de Josh, Liddy (Lisa Kudrow) e Cliff ( Dean Norris), do outro, as figuras mais tradicionais e conservadoras, Sharon (Edie Falco) e Frank (Brian Cox), pais de Rohan. Como se as diferenças entre si não fossem suficientes para gerar conflito, a introdução de um poltergeist homofóbico eleva a escaramuça para níveis absurdos e caóticos.
De certa forma, podemos interpretar que o demónio, cujo o nome é, surpreendentemente, Demónio da Discórdia, como uma espécie de metáfora para estas dinâmicas familiares tóxicas e apesar do seu desenlace num grandioso final ao estilo de Dartacão e os Três Moscãoteiros (1981) – sinto que a referência está adequada à maturidade de The Parenting – esta ideia de que a união faz a força é só mais um dentro de tantos outros clichés do filme, que pela sua abordagem genérica e vazia não consegue estabelecer qualquer ligação emocional com o espectador.
A falta de originalidade é gritante, e evocar o demónio através da senha do Wi-Fi ou apresentar o pénis do Brian Cox é o tipo de rasgo criativo que podemos esperar nesta longa-metragem que se serve da piada fácil e conceitos requentados para nos fazer rir. Tecnicamente é competente, a caracterização das personagens é exagerada, quase caricatural, assim como o tipo de efeitos especiais utilizados que não pretendem ser realistas, mas estão ajustados ao tipo de humor do filme.
O elenco acaba por ser o ponto forte desta comédia de terror que se destaca pela piada natural dos atores e a sua química, e não tanto pelo seu guião repleto de dad jokes. Apesar da narrativa se centrar bastante nos elementos da família, existem duas personagens periféricas que são claramente subaproveitadas, principalmente Brenda, a excêntrica personagem interpretada por Parker Posey que está a ter o seu momento com o papel que desempenha em The White Lotus (2021 – ) e merecia um pouco mais de destaque, não só pela sua qualidade cómica mas até para adicionar densidade à própria narrativa. Tanto Lisa Kudrow como Brian Cox trazem consigo um pouco da energia das suas personagens icónicas da televisão para estes papéis, Phoebe de Friends (1994 – 2004) e Logan Roy de Succession (2018 – 2023), e não desapontam. No entanto, o casal Josh e Rohan interpretado por Brandon Flynn e Nik Dodani falha um pouco a convencer-nos do seu grande amor que, no meio de tanto caos, acaba por passar despercebido.
Certamente que a lista de trigger warnings para este filme é mais longa que esta crítica, mas não é por isso que The Parenting merece ser ignorado. Claro que a chuva que teima em não cessar e alguma depressão sazonal podem estar a influenciar o meu discernimento, mas o baixo investimento que o filme requer acaba por ser um bom convite para pôr o cérebro a descansar.
